30.1.11

Crescem como amendoeiras





Cercado do desafeto de seu corpo,

recolheu-se à mesa dum café.

Uma congregação de cabeças à sua volta.

Uma cabeça é uma religião.

Crescem como amendoeiras,

fazendo sombra umas às outras.

Nem por isso o sol se apressa.

Era o caso.

Elas seguiam em fila para a água.

Quando se fecha um livro,

as palavras sufocam.

Sem ler e escrever corretamente,

adormece o açúcar no fundo da xícara.






28.1.11

Reserva animal de lembranças



Cortinas não existem quando a rua não está olhando.

Ninguém entraria naquele amor.

Reserva animal de lembranças,

um sorriso minúsculo à distância

assopra um bolinho quente,

dando à língua a procura de uma forma.






7.1.11

Todo anel é persuasivo


Todo anel é persuasivo.

Convence alguém de alguma coisa.

Nem que seja o dedo.

Não passa em branco.

Como um modo de andar,

engastado na terra 

antes que afunde.


Outros tipos de anel são desconhecidos.



3.1.11

Carbono 14







Tudo o que pode ser visto de cima

é o que está por cima do que está

por cima do que está por cima.


Às vezes ouve-se um lamento.









Varíola







A partir dos quatro anos de idade

já se reconhece um ovo podre.

Não é preciso arte ou tecnologia.

Fácil como bater a porta.

Pegar varíola.

Deixar o livro como está.  

Envelhecer.

Cada classe tem seu uniforme.

Responder uma pergunta que tem todos

os dentes de leite é bem mais difícil.










1.1.11

Jardim Botânico


Não percebe os movimentos da noite.

Nove ou três da manhã para ele são todos iguais.

Ângulos retos. Impressos ou desenhados à mão.

Noites são dias descascados, o que a casa 

devia entender no sentido que pudesse.

Como o pai fosse de certa classe de gente muito usada,

a menina combinou com os passarinhos de não cantarem

pela manhã e os dias passavam pontilhados, sem letras.

Descoberto o engenho, ele fez para si um violoncelo

das árvores mudas e concretou o jardim em 3 paralelas.


A organização familiar é uma planta de 

inverno que dá flores até morrer.