Flávio não joga boliche.
Fichas no caixa.
Flávio serve mesas. Pede vales.
Briga com fregueses.
Mora na Pensão Estrêla.
Com acompanhamento e arranjos
de Beth.
Tira fotos 3x4 no Almeida.
Põe a mão no rosto que dói.
No final do expediente recebe o
bilhete azul.
Um trem vai e outro vem na
estação.
Flávio entra em silêncio.
Fecha a porta.
Um café e um pedaço de pão
olham pro lado.
Flávio olha pra baixo.
Come.
Escova os dentes no tanque.
Na cozinha vê O Pai Come e se
Lambuza.
É de graxa.
A mãe quentinha.
Os trens vão e vêm.
Ele preenche o formulário.
Primeiro grau incompleto.
A mão suada na esferográfica.
Ele busca nas paredes.
Paredes não têm respostas.
Flávio desenha as letras.
Olha pro lado. Ninguém está
colando.
Flávio não tem dinheiro para
ver
Uma Longa Fila de Cruzes.
Mastiga um sanduíche de salame
no Passeio Público.
Dorme no banco.
Flávio não conhece aquela gente
dentro das enciclopédias.
Caminha até o aeroporto. Pega sol.
Olha o mar de paletó.
Flávio sempre olha o mar de
paletó.
E a cidade do alto de Santa
Teresa.
Os bondes nos trilhos certos.
Ele queima um bagulho.
Toma Praianinha no gargalo.
Não vai voltar pra Madureira.
Não vai passear em Niterói.
Vai passar a noite na Lapa.
Tomar batida de coco.
Quanto mais perto do Cristo,
maior ele fica.
Flávio pega carona nas lágrimas.
Fica no banco traseiro.
Quebra o prato do pai.
Uma Longa Fila de Cruzes não
conta
a história de sua vida.
Ele se abaixa e junta os cacos.
Era um filme sem importância.