27.6.16

Mantis religiosa




Um dia ele apareceu na mesa da cozinha e ficou. Morando sobre maçãs. Convivemos por um tempo. O único inseto que olha para trás à procura do dono. Gira a cabeça em 180 graus e vê tudo em 360 com seus olhos compostos. Ovo, ninfa e adulto é a sequência de uma vida. Há quem ensine a caçá-los para criar como bicho de estimação. Preso. O meu que não era meu não tinha dono. Todo verde. Todo cozinha. Todo conversa silenciosa. Mantis religiosa. Praying Mantis. Santa Teresa. Louva-a-deus. Este último, deus, não apareceu. Deve ter problemas com maçãs. Melhor. Eram poucas. Eram pagãs. Talvez meu amigo as estivesse evangelizando quando estendia as mandíbulas e as comia. Predador. Solitário. Suicida. Procura a água para morrer. Tem um ouvido no peito que ninguém mais tem. Ovos que explodem na primavera. Presas serrilhadas. Mantis significa Profeta. Grego. O que parece oração é um bote. Carnívoro, não sei por que escolheu minhas maçãs para comer. Ou para morrer. Talvez fosse isso. Uma cozinha aconchegante para o final da vida. Um leito doce. Desapareceu sem deixar corpo. E cantava. 








26.6.16

Googlismo




maira is assistant professor of asian american studies in english and anthropology and co
maira is co
maira is a doctoral student at the harvard graduate school of education who is doing her dissertation research on the ethnic identity development of
maira is an irish form of mary the closest i came to misha is myisha
maira is jetting in from the us to lead the relatively young boston consulting group
maira is assistant professor of asian american studies in the english and anthropology departments at the university of
maira is donating a portion of the proceeds to the twin towers orphan fund
maira is one of the maidens who travels with rand and taim to the farm
maira is a serai tomanelle
maira is a student who shows a great deal of concern for others
maira is the power possesed by both males and females
maira is an artist from india who sculpts
maira is a god who fathers one of the twins in the story
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maira is profoundly funny
maira is available also for group bookings throughout the year
maira is gestorven op 20
maira is gestorven op 20 maart 2000
maira is also known for her new yorker cover illustrations
maira is a famous singer in central asia
maira is heart warming
maira is assistant professor of asian american studies in the english and anthropology departments at the university of massachusetts
maira is one of 17 information officers working there
maira is the chairman of the boston consulting group in india
maira is an austrian national living in austria who speaks english
maira is a mexican national living in mexico who speaks english
maira is a graduate of the university of california at santa barbara
maira is one of six children who have been diagnosed with cancer in the small farming town of 5
maira is future
maira is of average height but quite stout
maira is a noted artist who can be reached at shaktim2@vsnl
maira is a noted contemporary artist who lives in new delhi
maira is taking a shower
maira is having a lot of drama rite now
maira is from the city matamoros
maira is a three-year magna cum laude graduate of bates college in lewiston
maira is 17 and is currently in italy as an exchange student for a year
maira is so good at story
maira is stuck
maira is 16 and lives at casa alianza's home for street children
maira is a doctoral student in developmental psychology/ anthropology at the harvard graduate school of education
maira is the full
maira is humorous
maira is 8 months old
maira is a young student/artist/photographer/writer from upstate ny
maira is a tv
maira is no more than a slim crescent of moonflashing
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maira is a teacher with two small children
maira is bukkantak
maira is
maira is busasan ra fogunk fizetni
maira is a typical rhodesian ridgeback female
maira is working with them
maira is willing to come to libraries to help with training or to make presentations
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maira is a young
maira is loooooooooooooost* go to top of page
maira is writing her phd dissertation in art history at nyu
maira is in staat van grote opwinding
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maira is the only person who contributes real estate stories to this journal
maira is very busy as always and appears to be going to homecoming with and possibly developing more with
maira is able to warn carric's people in time and the two tribes turn on the "red crests"
maira is his daughter she must be destroyed
maira is excited
maira is an internationally recognized authority on the practices of organizational change and performance improvement
maira is from barira
maira is ki akarja terjeszteni




23.6.16

Blue Moon (repurposed)










Blue Moon

You see me lying alone


Without a seam in my heart


Without a gown of my own



Blue Moon


You know just what I'm here for


You hear me asking a beer for


Someone I really could kill for







Barbed Poem











poema farpado





12.6.16

Não, não conversamos sobre isso ontem à noite




















Não, não conversamos sobre isso ontem à noite. Você não quis conversar sobre isso. Eu não quis conversar. Não me lembro como foi. Mas não conversamos sobre isso há noites. Desde o começo. Nada é perguntado. Eu também não falo. Parece justo. Eu sei que você pensa nisso e até se debate. Você não quer essa conversa. Quer deixar acontecer para ver como é que fica. É uma saída. As vontades. Mas por baixo de nossa discussão sobre o filme, eu pensava em outra coisa. Outra leitura longe do proposto. Ou em mim mesma. O quartinho quadrado. A cozinha quadrada. A piscina quadrada. A pintura quadrada. A TV. Esta tela. O seu telefone. A tela do cinema. Ninguém gosta de pessoas livres neste quadrado que é o mundo. Botam um preço na liberdade. Tem até a expressão Tomar Liberdades como sinônimo de atrevimento. E pensando. Talvez eu não seja tão livre assim e também não goste da liberdade. É um atrapalho. Temos outras coisas a fazer. Pagar o preço do dia a dia e. Você não me perguntou ontem à noite. E eu nem sei se tenho uma resposta. Tenho pensado. Tenho pensada, para rimar com E Deus permita que eu esteja errada. A que horas ela volta. A que horas ela volta aquela escuridão de onde eu vim. Não sei se você reparou, ou lembra, que no princípio era tudo apagado. E de repente vimos luzes ao longe. E com a luz pessoas e coisas à nossa volta. Coisas macias, coisas duras. Vieram as cores. O quente, o frio. Muros. E daí foi um pulo para todo o resto. A consciência do próprio corpo. Muro. Separado. Das pessoas e coisas à nossa volta. A geladeira branca de uma avó. Você não quer ter essa conversa. A que horas volta a escuridão de onde eu vim. Aquele túnel Dois Irmãos em looping infinito. A escuridão que tem uma mensageira. Seus textos diferem, não muito na verdade. São pré-programados, no estilo de época. A finalidade é a mesma. A mensageira recebe a incumbência e entra em ação. É do ato que não queremos falar. Sim, deixe como está para ver como é que fica. Os atos podem ser lentos, medidos passo a passo. Não há por que nos apressarmos. Deixemos acontecer. O Dois Irmãos sempre em curvas suaves. Infinitamente. E quando a mensagem chegar, deixemos que se transforme aos poucos. Permita a metamorfose lenta e progressiva. Que sirva de alimento o que foi feito alimento. Permita a ação do tempo. Como de antes da escuridão. O corpo viveiro como obra de arte. Tomando novas formas a cada segundo. Cada corpo um trabalho diferente. Uma leitura diferente. Um desfazer para fazer. Miniaturizando-se. Recromatizando-se. Ganhando uma nova superfície a cada segundo. Novos conectivos. Todo contorno. E se fazendo corpos. Pequenas composições. E se fazendo histórias. Histórias curtas. Muito curtas. Filhotes do corpo original. Do tempo vivido para tempos viventes. Histórias de histórias de histórias. Desengavetando-se. Abrindo caminho, abrindo passagem para estágios desconhecidos. Bolhas de sabão. E se você parasse, eu diria. Se você me perguntasse, eu diria. Não, não me queime. Dê de comer às crianças.













8.6.16

A Poesia é uma terra abençoada




A Poesia é uma terra abençoada. Você esquece um verso e o eco devolve outro muito diferente. A Poesia é uma terra abençoada. Tem um assistente chamado Guará que matou sua mulher a facadas na sombra do Cristo Redentor. A Poesia perdeu sua mulher a facadas debaixo do Cristo Redentor num dia de sol. Eu sou uma viúva. Uma viúva fracassada. No alto do Corcovado. Uma viúva fracassada de braços abertos. O assistente Guará matou minha mulher a facadas. A Poesia é mesmo uma terra abençoada. Você joga tudo num verso e o eco devolve outro muito diferente. O fim do mundo vai ser telegrafado por uma garrafa de coca-cola largada. A Poesia é uma terra abençoada pescando no meio do rio uma truta bem gorda do fim do mundo telegrafado por uma garrafa de coca-cola. A Poesia viúva fracassada de braços abertos não tem medo do fim do mundo. A viúva fracassada não tem medo da Morte de braços abertos. A Morte é só o fim do mundo. Quando eu morro foi o mundo que acabou. Não eu. A fracassada viúva do alto do Corcovado de braços abertos. A Poesia é mesmo um submarino abençoado. Toda mulher precisa chegar a nado. Toda cidade parada. O assistente avista a mulher da viúva fracassada no periscópio. Não sabe se é mulher, sete palavras inspiradas num fôlego, ou uma imagem na água.  A propagação retilínea da luz. A luz tem uma trajetória no formato da letra Z. A letra Z foi assassinada a facadas dentro do submarino abençoado. A letra Z é só o fim do alfabeto. Quando o Z morre foi o alfabeto que acabou. Não Z. Eu sou uma viúva fracassada. O assistente Guará matou minha letra Z a facadas dentro do submarino seguindo a trajetória da luz. Tudo que se vê por um tubo é menor do que de fato é. A ilusão de ótica é uma terra abençoada. Você avista um verso e o eco devolve outro muito diferente. 





[cinepoesing]





4.6.16

Acordam tarde os sábados





Acordam tarde os sábados

um café meio aberto meio fechado


um janglepop na vitrola


o conto de Carver ganhando vida




preparo os ovos com fina camada

de velocidade de dobra


e no frio mergulho de junho


essa canção grega na cabeça



nem existe









A Pray to Kill




Hail Mary full of Grace, the Lord is with thee.

Blessed are thou among women 
and blessed is the fruit of thy womb, Jesus.

Holy Mary Mother of God,

pray for us sinners, 
now and at the hour of our death.

Amen.