24.12.16

Doomsday



Eu gosto tanto desta suavidade do Sales
que não resisti e fiz um letra nova.


Doomsday

Over the line, we think twice
“You’re not Millay”, you say,
But it will have to do
And I’ll speak to you ‘bout time

I’ll be on my desk, for sure.
You can rest as sugar – 
Til’ my doomsday. 
These are not the Leaves of Grass 
That you came for (so fast).

And the pain, it subsides
With the weight of all your
Wild thighs.

I’ll be on my desk, for sure.
You can rest as sugar –
Til’ my doomsday.



Prefica Mutante





gosto de rodas rodas rodas
penso em rodas rodas rodas
rodas rodas rodas rodas rodas
desde a primeira catarata
até as margens de Khartum
rodas em Assuã
na grande curva do mar Vermelho
aos pés de Napata
prefica mutante
ovídeas
incansáveis no oásis de Faium
rodas pelo corpo
rodas afogadas
amenhemetianas
sufocadas
rodas suadas
de pós civilizatórios
rodas rodas e rodas
gôsto de rodas
penso de rodas
no portão de Newgrange
na evaporação de Wadi Halfa
rodas rodas e rodas até sobrar
o colo macio de Neit-iqueret
onde paro e deito meu busto
como uma pedreira
calcária e intocável





22.12.16

Nevada





E nesse dia
escrevemos
muito de tudo


poemas

16.12.16

There



There is a pleasure in the pathless words.



15.12.16

Minotauro





Não há nada tão triste do que ler caricaturas de poesia a esta hora da madrugada.

Talvez haja -- fazê-las.


Não vomito porque não há nada no meu estômago para asceses a esta hora da manhã.


Que sucede? Vestir assim a máscara de poeta até o fim dos dias. E acreditar.  E depender.


E imaginar antes de dormir mais caricaturas para jogar no focinho do mundo.


O meu abatimento é maior do que posso supor.


Mas a poeta está certa.


A poeta não tem embaraços. 


A poesia não tem vergonha.


Fecunda.


Eu é que devia estar dormindo a esta hora da madrugada.


Acompanhando a respiração do cachorro ao meu lado.


E sonhar com folhas de taioba se desmanchando na chuva.


O que não acrescenta nada ao poema. 


O que não acrescenta nada à taioba.


O Minotauro está morrendo.


Toda a América.


E que metade é touro, e que metade é homem?







13.12.16

Panair




Tarkovski está em San Gregorio. Anos 80. O braço apoiado na guarda da cama, ele olha para a direita. Alguém ou uma janela. O quarto rosa-escuro é o mesmo da sua casa. O colchão de molas é o mesmo que me dava dores na coluna e medo do som de folhas arrastadas pelo vento na madrugada de sua cidade. Há uma pequena foto presa na parede ao lado da cama. Amanhã passearemos na beira da sua praia. Uma areia lamacenta. O calçadão de amendoeiras. Sentamos no banco. Uma sombra. Eu seguro os óculos na mão porque quero ver você bem de perto. Nessa época, você e Andrei usavam o mesmo modelo de bigode. Você me conta histórias que mal ouço. Dos livros que corrigiu. Do rapaz que conheceu. Eu penso nas duas vezes em que quase morremos juntos. O carro sem freio. O tiroteio no bar. A exposição de Maria. O seu corpo bem-feito no judogi branco. O tempo que passamos brigados por pura vaidade até você me escrever uma carta apaixonada de amizade pedindo para voltarmos. Você chegando de surpresa naquele dia em que eu estava sozinha na cachoeira. Atrás de Andrei uma antiga penteadeira como a da sua avó. Enfeitada de bibelôs amarelecidos que me dão uma angústia sem paradeiro. O cinzeiro da Panair na mesinha de cabeceira. O barulho dos talheres soltos na gaveta da cozinha. A casa que cerca nossas conversas, a camisa quadriculada de Andrei e o guarda-roupa de espelhos, não sei se ainda está de pé. Eu comprei um onibusinho amarelo que nem deu tempo de te dar. Ainda canto aquela canção de amor que você compôs na adolescência. Abraçados na jukebox, com quem mais cantaremos músicas bregas que só nos dois gostávamos? Você não sabe, mas o lodo da sua areia foi todo coberto de mais areia. Toneladas. Assim li nos jornais. A cidade celebrou o acontecimento. O pântano sufocado. Hoje moro numa casa que você não vai conhecer. Nós nos esticávamos por cima do seu muro e víamos o mar. Um muro que você não conseguiu pular para se salvar. 






3.12.16

nas minhas mãos





abençoai os sacos plásticos
eles não têm um parente
e voltam para casa
nas minhas mãos