23.11.17

Não deixa eu saber



Não deixa eu saber que existes 

e estás atrás de mim por onde quer que eu vá. 

Tenho poucas lembranças mas em uma delas tu te acoitas. 

Com teu vocabulário certeiro 

teu raciocínio coeso 

tua fome de saber 

o codinome miserável que me destes 

e não ouso repetir porque seria pior. 

Não houve revolução e és avó. 

A Nova Ordem é ordem. 

O Novo Mundo é mundo. 

O Novo Tempo é tempo. 

Ando pelas ruas a olhar para trás do mesmo jeito. 

Não deixa eu te localizar nas sombras do meu medo. 

Não faze de ti um alvo. 

Eu sabia atirar melhor porque sabes. 

Eu sabia escrever melhor porque ensinaste. 

Não deixa eu fazer de ti meu último panfleto. 

Quando eu olhar tua foto no visor, 

reza para eu não lembrar do codinome. 

Para eu não lembrar do teu amor.