2.12.10

O que você não vê daí






Dois relógios de pulso.

Um não funciona longe do outro.

Basta afastá-los e eles param.

Os dois aqui em cima da mesa.

Pulsando juntos suas horas.







PÓ DE GIZ






O PÓ DE GIZ FLUTUA NA CANTINA E VEM PARAR NA MINHA MESA. HAVIA UMA BAIXINHA. MAGRA. CARRANCUDA. SENTADA COM AS COLEGAS NUM CANTO, FILMAM AS MENINAS. PEÇO MISTO QUENTE COM GUARANÁ. VOU PARA A MESA DE J. DISCUTIMOS MACBETH. O GUARANÁ FAZ UM BOLO E ENGULO. SINTO FALTA DA SALA DE AULA ONDE ME ESCONDO. DO FUNDO DA BIBLIOTECA ONDE FUMAMOS MACONHA. NÃO ESTOU PRONTA PARA O LESBIANISMO. PARA A LITERATURA INGLESA SIM. LADY MACBETH ME AFASTA DAS MULHERES. O FARDO DA SOLIDÃO DAS AMAZONAS. QUERO PEGAR EM ARMAS. O PORTEIRO DA FACULDADE É CANA. O COLEGA AO LADO PODE SER CANA. A PROFESSORA DE GREGO PODE SER CANA. OUVIMOS DYLAN NA CASA DE J. APRENDO CATALÃO COM O CACHORRO DA FAMÍLIA. POR ENQUANTO SÓ OLHO E IMAGINO O FUTURO. PERCORRO SIERRA MAESTRA ANTES DE DORMIR. UMA GOTA DE ÁGUA DIVIDIDA POR DEZ COMBATENTES. ME ATRASO NAS AULAS. FICO NO DIRETÓRIO. REUNIÕES E MAIS REUNIÕES. ENCARREGO-ME DO JORNAL. CRIAMOS UM GRUPO DE TEATRO. UM CINECLUBE. NÃO LEVO JEITO PARA PALCO. TENTO SONOPLASTIA. ME INTERESSO POR UM SONOPLASTA. A DIRETORA DE TEATRO TAMBÉM. O SONOPLASTA SE INTERESSA POR MIM. A DIRETORA ME APRESENTA SUA IRMÃ. O TRUQUE DE CENA É AFASTAR-ME DO ROMEU QUE ELA QUER. ME APAIXONO PELA IRMÃ. O SONOPLASTA FICA LIVRE. É MELHOR SER UMA DAMA. NÃO EMPATO FODAS. NÃO VENÇO FODAS. VAMOS TÃO FUNDO EM GROTOWSKI QUE A PEÇA NÃO ESTREIA NUNCA. PASSEIO NO JOCKEY CLUB. JARDIM BOTÂNICO. PARQUE LAGE. MORRO DA URCA. A BAÍA DE GUANABARA É A ÚNICA COISA DESTA CIDADE QUE SABE SER ELA MESMA. ESCALO A PEDRA DA GÁVEA. COMEÇO A BEBER. LEIO REICH E LENIN. CORPO E LUTA. MONTAMOS BARRACAS SOB O SOL. VEJO DESERTOS E TUAREGS. MAS É SÓ A PRAIA AO LADO. DISPENSO LSD. PEÇO WYBOROWA. UM DIA CONFUNDIRIA COM UMA POETA. A CATEDRAL METROPOLITANA COMEÇA A SUBIR. JANIS JOPLIN MORRE. LEILA DINIZ MORRE. ALLENDE MORRE. CAI O ARAGUAIA. A CATEDRAL SOBE MAIS UM POUCO. O PÓ DE GIZ COBRE MINHA MEMÓRIA. ME FORMO E NÃO PEGO O DIPLOMA. NÃO QUERO LECIONAR. NEM VESTIR SECRETÁRIA EXECUTIVA. MUITO MENOS CASAR. REZAM A PRIMEIRA MISSA. ACABA A GUERRILHA. FICAM AS REVISTAS DE POESIA. HÁ TANTO TEMPO TE AMO QUE JÁ TE ESQUECI. VOLTO PARA A BIBLIOTECA. ABRO E FECHO LIVROS. TALVEZ AINDA SEJA ASSIM. O PASSADO A VINIL NA MINHA CABEÇA. O PRESENTE, UM PEN-DRIVE. BOTO PARA TOCAR NO CARRO. ENTRE TROVÕES E RELÂMPAGOS. PERAMBULO POR VÁRIAS CASAS. AS PESSOAS ME ASSUSTAM. PARO DE BEBER. CASO POR AMOR. NASCE MACUNAÍMA À DERIVA PELO CU DE 
GRANDE OTELO. AS MÃOS AINDA MANCHADAS DE GIZ SÃO RAROS MOMENTOS DE LUZ.




15.11.10

Après le bain





Hope is the thing with glasses.





30.9.10

Efigênia de Delfos





Na ausência de pétalas,
espalho seis bolinhas de
papel amassado no terreiro.
Uma palavra escrita em cada.

E espero, à sombra dos lauréis.

Efigênia, cansada, bica uma por uma.

Bem
Mal
Me
Quer
Me
Quer

No amor e na ordem, sempre sigo a ótica carijó.



15.9.10

Degollado de Guadalajara

Segunda

terça

quarta

quinta

sexta

plácido

domingo

14.8.10

Objecto de culto





Desde que descubrí las horas

las veo en su laberinto










31.7.10

Bête comme un peintre


Deve ser por aqui.
Assimetrias sutis é como o artista
diz de suas peças tortas, lascadas,
espalhadas pelo chão, dialogando.
Apuro o ouvido. Parecem quietinhas.
Geometria sensível é onde não se
passa a régua. A estrutura é uma
consequência do desenho e vice-versa.
Sinto uma pontada na cabeça.

Minha mente começa a embaralhar.
A consequência é uma estrutura
do desenho e vice-versa.
A estrutura é um desenho
da consequência e vice-versa.
O desenho é uma estrutura
da consequência e vice-versa.
O vice-versa é o desenho
da estrutura e consequência.
Puta que o pariu.
Eu só estava procurando um bebedouro.




Assim me foi repassado em uma bolinha de papel amassado encontrada
num banheiro público dizendo em tinta vermelha o Bête comme un peintre ou Um dia no MaMMa, museum AND modern modern art, ou Basquiat c’est moi ou Traga-me um copo d’água tenho sede, entre outras anotações e rabiscos como De quem era o número de telefone 2913853 que você escreveu em AZUL 0.8 no índice do meu Mário e que só descobri agora?







22.7.10

Enfibraturas do Ipiranga




Bar do Tom. Rua Adalberto Ferreira. Sábado, 21:33. Barbudo maltrapilho com sotaque francês fala com gerente. Diz chamar-se Alfred e quer vender um desejo que ele mesmo fez. Em português é desenho. Um autorretrato seu com George Sand. O gerente olha desconfiado, não compra e oferece um chope pipoca como compensação. O francês bebe de um trago só e antes de sair agradece: Mon verre n’est pas grand, mais je bois dans mon verre.

&

Pizzaria Rosca Soberba. Estrada União Indústria. Domingo, 19:30. Mesa 7. Homem branco, caucasiano, sub-20, magro, cabelo máquina 5, preto tingido, tatuagem farpada no pescoço. Estado de ânimo: azedo. SMS: “Dani, eu não tuíto, mas ainda sou gente, tá?”. Pedido: 1 minicalzone napolitana, 2 chopes. Tempo de espera: 12 min. Tempo de consumo: 6 min. Conta: 32,90. Gorjeta: 0. Garçom Geraldo, voz interior: Maldito debiloide mão de vaca.

&


D’Amici. Rua Antônio Vieira. Quarta-feira, 14:45. O almoço está na mesa. Perdiz ao molho de vinho branco e ervas. Tem quem escute crianças brincando na rua. A mulher esquecida do mundo fica olhando a perdiz torcendo para ela gostar do seu estômago. Que seja inteligente e boa, deixe-se levar. Mesmo assim engole em seco, garfo no ar. A perdiz não desabafa mais seus sofrimentos. O público não deve de saber certas coisas íntimas. Sobremesa: petit gâteau de goiaba com sorvete de queijo. Enfibraturas do Ipiranga.

&



Espírito Santa. Rua Almirante Alexandrino. Quinta-feira, 22:15. Não é possível comparar uma alfavaca com outra alfavaca, diz o pai. Nem me interessa saber. Faz uns vinte anos e coisa que não sei mais o que é o coração de um pintado, aduz a mãe, salivando saudade de parentes muito longe em longe. “Coração de um pintado”, ecoa o silêncio entre talheres. O filho ali, nem triste era o caso. Sem vontade. Mole, aguado, simbolista. Esse prato vem ou não vem? Meia hora depois dispensam o céu na terra. Não o cafezinho. 

&

Tia Palmira. Rua Caminho do Souza. Sexta-feira, 13:50. Rodízio: camarão-pastel-siri-polvo-peixefrito-bobó-vatapá-moqueca-sururu-lula-pirão-farofa-de-dendê. Yedda lembrou da barriga e tirou os traços-de-união. Modesta, só vatapou. A gula já lhe roubara três namorados e duas amigas naquele ano. Ela não sabia que uma simples barriguinha intransitiva pudesse magoar tanta gente. Fecharia a boca para a vida. Amanhã. Sempre amanhã. Por enquanto olhar o prato lhe acalma.






15.7.10

Diadorim



Diadorim.
Diabo de dorzim. Das Dor.
Diadorim.
Nome de estrela do céu mais baixo.
De joaninha.
De comprimido. Dia do rim.
A gente lê Sêo Rosa e fica assim.
Falando línguas.
Se tem certa velhice, fica lembrando,
coisas, tudo tintimportintim.
Se não tem coisas, o sonho traz, inventa.
Fato por fato. Começo, meio, meio do meio,
fim do começo, começo do fim, e o do
fim exatamente. Que fim não tem meio.
Depois acorda e esquece do lembrado.
Vive a vida corrica. Uma só.
Que é vária e não se vê.
Diabo de dorzim. Diá de Sê o Rosa.
Diadorim é mulher só no final. Morta.
Sêo Rosa desvestiu.
A veredas só tem mulher diadorim.
Mulher feitio de homem. É ninguém.
Deve de lê Veredas com óculos de proteção, advirto,
que o dito respinga na gente e a memória
do coração minha mistura na dele, faz um caldo
grosso que não tem ralo que passe.
Ferve. Encolhe a carne da palavra que
eu tenho, fica um tantinho só. Dá vergonha.
De jumento espiando cavalo de raça. Não tem parelha.
Veredas é papel de ler em árvore da sombra do céu,
que não tem mais no de-Janeiro. Virar páginas
respirando curtinho. Contando nos dedos.
Não em poltrona de trem-bala, a vida passando
borrada. De onde se apeia quando a estação quer.
Ler até arder a porta do olho, a do fundo doer.
Jagunçada é pra encher linguiça.
Afazeres de livro gordo. Bote aí mil-e-quinhentos bois,
dezessete e setecentos cavalos entre burricos,
duas das mil carabinas e winchester, o mesmo número
de cabras tocando tudo, uma vingança por dia em vinte anos,
os gerais inteiro e soma a epopeia. O quebrado da conta é
o falar de amor. Amor encoberto. Dos pior.
E outras metafísicas estufadas.
Tesconjuro diminuir a história assim. Tirar água da carne.
Vá ler outra vez, vai. Dia dorzim.



29.6.10

Berenice



Mal lancei os olhos sobre a página e vi que aquele era
o assunto que eu procurava. As letras saltaram Infusões
químicas que preservam a decomposição do
corpo
De quem é aquele cavalo lá fora? Berenice
varou porta adentro. Que cavalo? Ela apontou pela janela.
Se eu entendesse de cavalos e mentiras, diria ser um
Holsteiner, mas Berenice adiantou-se. Aquele pangaré ali
pastando e espalhando carrapatos por todo lado. Eu não
deixei a cancela aberta, se é o que quer saber, tratei de me
defen Não quero saber. Vá tirá-lo daqui. O mal de pessoas
como Berenice é que não têm liga-desliga. Precisam de
métodos mais drásticos. Se tivesse permanecido de fraldas
seria melhor para todos. Mas o coma durou só seis meses.
Um tombo de cavalo. Por isso os odiava e maltratava.
Papai teve de vender metade de nossas terras para pagar
a conta do hospital. Houve sequelas. Berenice é má.
Tão má que toda maldade que há em mim parece sair
de sua boca. Joachim não acredita quando digo que
Berenice é má. Vou lhe dar uma razão para provar
meu argumento: Berenice mata gatinhos e cachorrinhos
sufocando-os com algodão embebido em éter, coloca
tudo num saco e despacha pro lixo. Quem não odiaria
Berenice? Joachim assente e silencia. Não é meu amigo.
Não há sequer um dedo dele em minha alma. Imprima-se Berenice.
Toquei o animal para fora gentilmente e baixei a cancela.
Levei mais de meia hora nisso, as orelhas alertas do cavalo apontando
escutar a história sussurrada de minha vida com Berenice.
Ele foi embora de barriga cheia e sabendo de tudo. Reconstituída,
ela continuava imóvel na janela do escritório observando os seus
domínios. Posso sentir seu cheiro daqui. Formol, fenol, glicerina.
Colhi umas verônicas e coloquei no túmulo de papai. Ele sorriu.







21.5.10

Breakfast for Gertrude Stein




ffffffff
ssslurp
ouch!
sssss
ssslurp 

ssslurp
glug

glug
croc crunch
chomp chomp
yummy
(beep beep)

gulp
hellohm?
hi!
hmm-hmm
me?
er...
now?
humpf!
oh...
ok
bye
(click)
fuck!
burp.









13.4.10

Constance





Constance,


Deitada nos arrozais de Pendotiba
sonhei que colocavas toda
a tua língua em minha boca
até o fundo da primavera

ninguém acharia os nossos
corpos ali.








11.4.10

Vão beber sozinhos




Dois homens parados na rua.
Seguem em direções opostas.
Estou dentro do carro.
Não chove porque já choveu
tudo que havia para chover.
Os homens tiram a capa.
O para-brisa marca os segundos.
Os homens não param.
Saem pelos cantos do retrovisor.
Viro à esquerda.
Dou a volta no quarteirão.
Lá está outro, parado.
Vem na minha direção.
Não preciso do retrovisor para ver
que leva a mão ao bolso da calça
e puxa um estilete/carteira/revólver?
Estou dirigindo sem óculos.
Uma imprudência.
Os vidros elétricos sobem.
Abro o porta-luvas e destravo minha Ratzinger.
O homem olha fixamente para mim.
Não me reconhece.
Passa direto e atravessa a rua.
Do outro lado a mulher espera.
Abraços e vão beber sozinhos.
Enfio o pé no acelerador
e eles ficam para trás.
Parados para sempre.
Digo a mim mesma que estou ficando senil.
E concordo.





17.3.10

A lady with a problem




1 Old Sweet Hacienda

2 Call it Corazón

3 A cradle that never rocks

4 She looks at her father

5 The father looks at her mother

6 She looks at her mother

7 The mother looks at her father

8 Old Sweet Hacienda

9 And a bloody Harper's Bazaar










21.2.10

Al levar della luna




Quando eu já nem lembrava mais de sua imagem e som,
você me aparece explodindo na tela dos meus sonhos.
Tão líquida, que dava para ver o fundo. Estamos felizes.
Sua vivacidade nervosa e o rouco sorriso irônico na
boca me contam algo de muito engraçado que lhe
aconteceu. Eu não acompanho. Apenas sigo seus
gestos. É a solidão mais doce. Uma súbita cinza de
cigarro fora da moldura cai em sua pálpebra. Sem
saber o que procura, você esfrega o olho com os dedos
e borra a pele. A cinza se espalha. Vira uma sombra.
Eu sorrio e falo pela primeira vez,
com a minha voz que não entende o que quero dizer.
Está parecendo uma egípcia. Egípcia? Você pula do meu colo,
corre até o espelho e puf! Acordo quando já não é você
que sonhei há pouco. A mulher está só.
Podemos nos ver novamente,
sempre que o esquecimento quiser.


-

7.2.10

O ovo e a vizinha


“Vó, a vizinha tá cheirando o seu ovo!” Elizabeth Soares, dos Almeida, nasceu no Rio de Janeiro em 1968 e morava com a avó no Leme, o apêndice de Copacabana. Morava com a avó porque dos pais pouco sabia. Eram professores e viviam viajando, comentavam baixinho. Ela nunca os viu. Nunca os veria. Como via agora a vizinha cheirando o ovo. A vizinha batera na porta há uns três cafés da manhã e pedira por obséquio um ovo. Só um. E branco. Não uma xícara de açúcar. Uma colher de sal. Um ovo. A cozinha da avó ficava de frente para a cozinha da vizinha. Entre elas um fosso de dez andares. Vinte cozinhas ao todo. De todos os cheiros, vozes e ruídos. Elizabeth viu pela janela sempre aberta a vizinha entrando na cozinha em frente e pousando o ovo sobre a mesa. Não fritou, não cozinhou. Sentou na cadeira e ficou lá a manhã inteira. Olhando o ovo. Estudando. Depois pegando, tateando, girando-o entre os dedos e, largando de novo na mesa, tentou várias vezes colocá-lo de pé. Ovo teimoso. Elizabeth sorriu, lembrando da avó. Turrona. A mulher olhava para o ovo com a devoção dos não famintos. Como um Cristo na cruz. “Vó, a vizinha é doida?” Não, é jornalista. Vive batendo à máquina, nunca ouviu? Jornalista é quem escreve em jornal, Elizabeth lembrou das palavras da avó enquanto catava conchinhas na praia. Será que ela vai escrever sobre o ovo da minha avó no jornal? Que notícias pode trazer um ovo? Dos meus pais desaparecidos? Elizabeth largou o baldinho, deu um mergulho e voltou para a sombra da barraca. A avó comprou dois picolés. Olhando um navio que passava, ela começou a fazer um buraco fundo na areia morna. Um dia iria para longe dali. Outro país. Não sabia como. De navio ou por aquele buraco na areia. A areia da praia costumava ser generosa. Bastava saber cavar. Um dia achou um relógio de ouro. Outra vez um livro de capa dura de um escritor chamado Oscar. O Retrato de Dorian Gray, leu sua avó. Seu pai também se chamava Oscar, ela disse, como se ele estivesse morto. Foi o primeiro livro de Elizabeth. Ela aprendeu a ler só para entender o que Oscar dizia. Mas Oscar ainda era uma boia longe e solitária no oceano. Foram necessários mais vinte anos para entendê-lo. A avó não existia mais e Elizabeth descobriu não gostar do Leme, do país, do ovo. O ovo era o disfarce da vizinha. Não precisou do navio ou do buraco na areia para chegar ao outro lado do Atlântico. Professora de teoria literária e literatura comparada em Oxford, Elizabeth perdeu também o sobrenome. Ganhou dois filhos, Troilus e Cressida.



-

19.1.10

Hotel Londres




A qualquer hora que olhasse havia uma sombra passando.

Segundo quarto à esquerda do corredor.

E chegando.

Bem aqui.

Atrás da poltrona onde me sento

todos os dias com o mesmo livro.

Antes de nos despedirmos,

você também sente isso,

esperando que ela fale.

Neste mundo ou no próximo.

Viro a página, como uma porta puxada bem de leve

entre palavras que já não conseguimos dizer.