13.4.10

Constance





Constance,


Deitada nos arrozais de Pendotiba
sonhei que colocavas toda
a tua língua em minha boca
até o fundo da primavera

ninguém acharia os nossos
corpos ali.








11.4.10

Vão beber sozinhos




Dois homens parados na rua.
Seguem em direções opostas.
Estou dentro do carro.
Não chove porque já choveu
tudo que havia para chover.
Os homens tiram a capa.
O para-brisa marca os segundos.
Os homens não param.
Saem pelos cantos do retrovisor.
Viro à esquerda.
Dou a volta no quarteirão.
Lá está outro, parado.
Vem na minha direção.
Não preciso do retrovisor para ver
que leva a mão ao bolso da calça
e puxa um estilete/carteira/revólver?
Estou dirigindo sem óculos.
Uma imprudência.
Os vidros elétricos sobem.
Abro o porta-luvas e destravo minha Ratzinger.
O homem olha fixamente para mim.
Não me reconhece.
Passa direto e atravessa a rua.
Do outro lado a mulher espera.
Abraços e vão beber sozinhos.
Enfio o pé no acelerador
e eles ficam para trás.
Parados para sempre.
Digo a mim mesma que estou ficando senil.
E concordo.