31.3.14

Sextonian




Who am I, 

that one in your arms?






27.3.14

Triplo Axel




Alegria!
Todos se foram.
Só ficaram eu
meus biscoitos
e Adèle H.
com quem hei de casar
assim que libertá-la da caixinha de música para a pista de gelo oh que direi eu quando crescer e escrever essas coisas insanas para você ler papai manda-me 700 francos do inferno onde estás a vida em Halifax é muito cara muito fria e patino todos os dias diante do sr. Duhamel para pagar minhas contas ele também me dá livros e não pede nada em troca só me ver girando girando no espelho da caixinha ele me acompanha ao violino porque não há muita música na caixa o mecanismo quebrou isso o mecanismo o mecanismo de todas as coisas mecânicas daí eu giro giro até ficar tonta mecânica e o sr. Duhamel excitado mecânico a calça dele incha naquele lugar que parece um biscoito ali dentro como é o inferno papai? o seu biscoito deve ter assado há tanto tempo seus farelos espalhados por aqui na minha memória e salivo faço um triplo axel e saio do espelho até o teto de arco-íris porque todos se foram e não sei quem é Adèle H. e por que quero estar com ela aqui deitarmos em suas resmas de papel e fodermos fodermos sem que nosso filme tenha qualquer diretor para nos dizer o que fazer o que andar o que sentir com este balde até aqui de água e Adèle me olha e H. me olha e fodem sozinhas com a música os pinos que têm na cabeça eu preciso do violino do sr. Duhamel porque não ouço coisas e sou maluca e não sou Adèle H. quer casar e põe um biscoito dos meus na minha língua no meu lago dos cisnes eu salivo eu estou vivo sou uma bailarina de gelo vivo e me aqueço no clitóris do sr. Duhamel entre as pernas de Adèle que agora fodem na caixinha de música e os tranco lá dentro sem música sem violino e vou ler Les Misérables você devia fazer isso também papá manda-me 300 francos os biscoitos são caros em Halifax as pessoas são caras em Halifax e tenho de comprá-los e ao violino do sr. Duhamel que comi e danço sozinha enquanto leio Les Misérables do meu pai no inferno que deus o tenha e não traga de volta girando girando num triplo axel de um deus de gelo e pleurisia despeço-me agora Adèle papá mamã que sou eu apenas eu onde todos se foram case comigo papai eu me visto de rapaz se o senhor quiser eu me faço de tenente vou à guerra trago umas medalhas e coloco no seu peito de farelos já podres seu peito renascerá num passe de mágica e dançará uma farsa com as medalhas dentro da caixinha eu comerei seu cu papai e direi eu te amo às suas costas enquanto suamos fique à vontade não vai doer e outra vez estoco no seu reto mamã e Adèle H. com quem vou me casar depois de fazê-lo gozar





20.3.14

1 poema de Maxine Kumin



Como é

Devo dizer como é estar em suas roupas?
Um mês após sua morte usei seu casaco azul.
O cachorro no centro da minha vida reconhece
você veio me visitar, ele fica em êxtase.
No bolso esquerdo, um buraco.
No direito, um tíquete de estacionamento
entregue em agosto passado na Bay State Road.
Em meu coração, uma dispersão de asclépias,
uma eclosão dos casulos da alma.
Minha pele pressiona seus antigos contornos.
É quente e seco por dentro.

Penso no último dia de sua vida,
velha amiga, como eu iria desfazê-lo,
juntá-lo outra vez em uma diferente colagem,
de volta do carro da morte parado na garagem,
subindo as escadas, suas mãos descruzadas,
remontando pedaços de pão e atum
em uma cerimônia do sanduíche,
recuando o filme caseiro até um espaço
nosso e tranquilo, uma lugar na cozinha
com vodca e gelo, nossas palavras em carne viva.

Amiga querida, você inspirou multidões
com o seu exemplo. Elas incham
como sacos de vinho, esgarçando suas costuras.
Eu ficarei anos reunindo nossas palavras,
pescando nossas cartas, fotos e manchas,
firmando minhas costelas neste tecido indelével
para vestir o mudo manto azul de sua morte.





("How It Is", poema de Maxine Kumin dedicado a Anne Sexton logo após sua morte em 4 de outubro de 1974, dia em que as duas amigas almoçaram juntas e Kumin ajudou Sexton a revisar seu manuscrito de The Awful Rowing Toward God. Ao voltar para casa, Sexton se matou. A poeta Maxine Kumin faleceu em 6 de fevereiro de 2014. Trad. Maira Parula.)






19.3.14

Vagamente




Envelhece-te
como os móveis
apodrecem por dentro
o freezer de ferrugens
envelopado de Mondrian
e do retrato do teu pai
esfregando as mãos
Envelhece e refestela-te na cama
os dois parados conversando
com os mosquitos presos na tela
os braços do relógio
que escurecem os dias
Fuma um cigarro para a rua
vagamente
uma cozinheira saiu com o vento
cantarolando
Envelhece-te e deixa no fim
que o retrato frio do teu pai
deite um pouco de canela
entre nós folheados de maçã




12.3.14

Círculo



A raça humana é um lixo galáctico 
e no entanto somos tão educados 
tão frágeis tão sensíveis 
a fragilidade tão sensível da barbárie
a barbárie tão educada
tão humana
tão raça
o sensível tão educado no entanto
da barbárie
frágil
humano
no meio esparso de gás