30.4.14

Te mando minha fotografia



Macarrão 
Carne desfiada 
Espran e Tylenol.

Calça branca 
Azul furtivo 
e um avião a jato sob o sol.



23.4.14

Do jeito que eu fiquei




Parece que dizes

voltei a ser você 


com um novo amor


na cor dos seus olhos


que passa ligeira


e me leva embora


do jeito que eu fiquei







19.4.14

Betoneira



Foi ali
na garagem de um hotel de rodoviária
caminhando na direção do Gol 2 portas.
Eu acabava de chegar do Rio.

Foi ali que você me contou tudo.

Com todas as sílabas do nome oficial.

Foi ali e você sabia que eu abriria

a janela do carona para trocar todo
meu oxigênio por monóxido de carbono.

Foi ali e você sabia que jamais

poderia ocupar aquela vaga
com o seu Gol 2 portas.
Nem com uma betoneira.

O cimento já estava seco.

As lâminas, fora do eixo.
Nada em mim girava mais.
Lágrimas seriam inúteis à mistura
que eu despejaria no futuro.







14.4.14

E se eu acordar e não puder levantar





E se eu acordar e não puder levantar?

Tudo à minha volta não puder levantar.


Como livros deitam-se à cabeceira.


Pernas moles.


Formigamento na coluna.


Mexo só os braços para pegar o copo.


A água que me trouxeste tão compassiva.


E te abraço com meus únicos braços.


A pele fina de minhas mãos sangram.


Uma pele riscada de vidas


com manchas do sol da infância.


A varanda do hotel está vazia.


Tomo um martíni.


O casal encontrado morto na cama.


Não Perturbe na porta há quatro dias.


Nenhum odor de putrefação.


Corpos em perfeito estado.


E se eles não puderam levantar?


Tudo à nossa volta não pôde levantar


e as coisas simplesmente desistiram?


Você entra na varanda, insular,


e a noite à frente revela sua luz.







5.4.14

Tom de discagem



Perdi minha alma em 17 de novembro de 2001.
Não foi no 16 nem no 18.
Pela manhã. Pelo telefone.
Ela foi saindo e esvaneceu.
Sem hora para acabar.
O corpo que você vê.
As palavras que você lê.
Sou eu presa naquele fio.
Com o tom de discagem.
Para almas com perda auditiva.
Com teclas de memória.
Para almas que me esqueceram aqui.
Perdi minha alma em 17 de novembro de 2001.
Não há uma lista que registre aquele número.
Eu já não posso ligar para ela.
Meu corpo que não vejo.
Minhas palavras que não leio.




2.4.14