Esta é a Lavanderia do Posto. E durante muito tempo nada mudaria.

Era assim que eu me via e todas as pessoas da calçada me viam.

Era assim que eu via todas as pessoas que passavam na minha calçada.

Portas e janelas fechadas para o cheiro de gasolina não empestear a roupa lavada.

Devia haver um cordão de isolamento separando este pedaço da calçada.

Não havia por que gente passando de um lado a outro na minha frente se não fosse para entrar.

E assim o povo da padaria seria o povo da padaria.

O povo da peixaria seria o povo da peixaria.

O povo da farmácia seria o povo da farmácia.

Cada um com sua fatia de chão.

A farmácia vive cheia. É um povo fraco. Doente. Esgotado.

A padaria enche nas horas certas. O tempo é pouco e seus fornos têm fome.

A peixaria tem cheiro de carne apodrecida. De matéria esmagada sem piedade.

Todas essas coisas não se comparam ao cheiro de uma roupa lavada.

De roupas passadas e penduradas sozinhas à espera de um corpo.

Sempre há um corpo que vem buscá-las.

Cada corpo tem a sua roupa. Isso nunca mudaria.

E os corpos sujam o que vestem. É a lei.

Aqui não é uma rua. É uma calçada. Um pedaço de chão ao lado do posto.

Muitos vêm de carro. Ainda lembro dos cavalos.

Homens passam com pressa. Os que caminham para um nada com relógio no colete.

As mulheres passam devagar. Olham o seu reflexo no vidro das fachadas.

Os jovens. Eles não param. Espiam com desdém e passam o dedo sujo pelo vidro.

Só o velho de chapéu entra na Lavanderia do Posto.

Sua roupa está pronta. Eu mesmo fiz questão de entregar.

O velho não passa de um lado a outro da minha calçada.

Não olha o seu reflexo nas fachadas.

Não há desdém na sombra do chapéu.

Ele tem um destino certo. Uma medida certa.

E entra.

Durante muito tempo nada mudaria.