24.2.16

[eu devia]

eu devia ter ido embora naquele agosto de 2005

enquanto havia o limoeiro entre dois mamoeiros

uma goiabeira à esquerda

uma figueira à direita

o gramado central para descansar os pés

duas janelas inconsoláveis

na Coronel Santiago 240

eu devia ter ido embora

porque sabia que ia recordar






19.2.16

Dickinsonesque






I will be summer,

eventually.





8.2.16

1 poema de Hugo Lima





Vi no site Mallarmargens um poema que Hugo Lima fez e dedicou a mim.
Uma montagem/releitura carinhosa de versos meus, um redesenho. 
Gostei e agradeço a ele por isso. 



HEARTBITCH E OUTRAS DISPERSÕES [EXCERTOS]



para Maira Parula.

i.

é como estar
mais longe que o olho
como em todas as outras noites
produzindo um vídeo-poema
escrevendo um sms de amor
chega um tempo em que não
me recordo mais que
recordar é voltar a escrever
ah coração preguiçoso!
não volto mais pro mar
procuro onde estou
plath!
maiakovski lê caymmi
eu leio um pequeno poema norueguês
penso num poema do alberto ríos
sinto meu estômago em estocolmo
converso com dulce biás
sobre um poema de simon armitage
de repente um pouco de luz
amanhã seguirei pra são paulo
renato foi à quebec em abril
vou pintar um autorretrato com rabanetes

ii.

antes do despertador tocar
ele era ele
numa mesa pra dois
havia 3 poemas de vasko popa
e já era tarde demais para alguma coisa
what you see is what you get
pensava incessantemente
o telefone tocando sem parar
as palavras vibrando na garganta
acabe com essa droga de uma vez
está provado que só é possível
ne me quitte pas em português

iii.

quando não se quer dizer nada
talvez a vida
seja uma coisinha estúpida que é
amar você
não sei
penso em baudelaire
rio-frankfurt
ou nas viagens que já fiz antes
de me tornar este poeta plissê
pareço limpo
mas tenho 2 poemas de abous nuwas
tatuados no peito
dentro
mais ao meio
se puder quase em torno
como uma passagem editada por walter benjamin
prefiro a quarta pessoa do singular
1 poema de ernest meister
mais 3 poemas de josefina plá
mais 5 poemas de jürgen beckermais uma dose de vodka
mais pouco gelo e dois dedos d'água

iv.

uma forma de dizer que não quero mais
é essa antipatia quase ódio
algo que rumina na máquina da noite
mas
de que serve voltar de viagem
voltar ao meu apartamento
ao double stops
se os 300 francos que você tem
não vão dar pra pagar nem o molho inglês?
deixa isso pra lá
vem pra cá
o que é que tem?
vem morrer na minha casa
vamos gozar na minha cama
não temos nada a perder
não temos muito tempo
hoje é só mais uma noite de hotel
e no inferno só há lugar pra dois

v.

minha primeira aula de estilística
copio 3 poemas de anna akhmatova
passeio de chapéu e bengala à margem do ouse
vou pensando em "zefiragens"
"boa noite, belo rapaz!"
daí dou de cara com o poema que não posso esquecer
sofro mais que um tropeço
caio em queda livre
sem que nada me veja
e antes de encontrar violentamente o chão
medito sobre 1 poema de lord byron
perco o rapaz de vista
perco a voz
esqueço o poema

vi.

enquanto soprava tristemente meu café de esquina
pensava "onde estão os olhos de piaf?"
minha alegria meu cansaço
acho que o mundo não quer ser poeta
estão todos fartos das notas do editor
veja você: nem poemas de toyo shibata leem mais
talvez 1 de al purdy
mas ah
de que adiantam as notas do editor
não querem mais saber de poesia
mal conseguem olhar pela janela do carro
piaf já não está mais aqui
aqueles olhos triste e singelos
minha alegria meu cansaço
meu café amargo
e aquela voz sorrindo bem lá no fundo
"distraídos venceremos!"




4.2.16

Ana




Um pão pizza. Um copo de mate.
Fachada sem toldo no alto verão.
Sol forrando a mesa.
Tom de mensagem.
“Construto mercadológico-midiático é a puta que te pariu. Não me procure nunca mais. Ana.”
A cada garfada tenho de retirar os galhos do orégano.







3.2.16

3 am




3 am

don't remember your face

anymore