Bar do
Tom. Rua
Adalberto Ferreira. Sábado, 21:33. Barbudo maltrapilho com sotaque francês fala
com gerente. Diz chamar-se Alfred e quer vender um desejo que ele mesmo fez. Em
português é desenho. Um autorretrato seu com George Sand. O gerente olha
desconfiado, não compra e oferece um chope pipoca como compensação. O francês
bebe de um trago só e antes de sair agradece: Mon verre n’est pas grand, mais
je bois dans mon verre.
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Pizzaria
Rosca Soberba.
Estrada União Indústria. Domingo, 19:30. Mesa 7. Homem branco, caucasiano,
sub-20, magro, cabelo máquina 5, preto tingido, tatuagem farpada no pescoço.
Estado de ânimo: azedo. SMS: “Dani, eu não tuíto, mas ainda sou
gente, tá?”. Pedido: 1 minicalzone napolitana, 2 chopes. Tempo de espera: 12 min.
Tempo de consumo: 6 min. Conta: 32,90. Gorjeta: 0. Garçom Geraldo, voz
interior: Maldito debiloide mão de vaca.
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D’Amici. Rua Antônio Vieira. Quarta-feira, 14:45.
O almoço está na mesa. Perdiz ao molho de vinho branco e ervas. Tem quem escute
crianças brincando na rua. A mulher esquecida do mundo fica olhando a perdiz
torcendo para ela gostar do seu estômago. Que seja inteligente e boa, deixe-se
levar. Mesmo assim engole em seco, garfo no ar. A perdiz não desabafa mais seus
sofrimentos. O público não deve de saber certas coisas íntimas. Sobremesa:
petit gâteau de goiaba com sorvete de queijo. Enfibraturas do Ipiranga.
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Espírito Santa. Rua Almirante Alexandrino. Quinta-feira, 22:15. Não é possível comparar uma alfavaca com outra alfavaca, diz o pai. Nem me interessa saber. Faz uns vinte anos e coisa que não sei mais o que é o coração de um pintado, aduz a mãe, salivando saudade de parentes muito longe em longe. “Coração de um pintado”, ecoa o silêncio entre talheres. O filho ali, nem triste era o caso. Sem vontade. Mole, aguado, simbolista. Esse prato vem ou não vem? Meia hora depois dispensam o céu na terra. Não o cafezinho.
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Tia Palmira. Rua Caminho do Souza. Sexta-feira, 13:50. Rodízio: camarão-pastel-siri-polvo-peixefrito-bobó-vatapá-moqueca-sururu-lula-pirão-farofa-de-dendê. Yedda lembrou da barriga e tirou os traços-de-união. Modesta, só vatapou. A gula já lhe roubara três namorados e duas amigas naquele ano. Ela não sabia que uma simples barriguinha intransitiva pudesse magoar tanta gente. Fecharia a boca para a vida. Amanhã. Sempre amanhã. Por enquanto olhar o prato lhe acalma.