29.11.23

22.11.23

Neblina


Vergonha do corpo em que nasci

Vergonha do corpo em que fui

Vergonha do corpo em que sou

Do cadáver que serei

o que disse e não disse dirá

o que fiz não fez fará

entre neblinas 

onde rastejo

dentro do teu livro.



18.11.23

Vitamina dos dias



leite podre

banana podre

odre podre

víscera podre

pessoa podre

urbe podre

orbe podre

e ainda vos digo mais

O deboche é a minha única salvação

Viva Waly Salomão! —

de quem espedi-me e beygelhy a maao

seria eu acatada pela Escrita Breyner do Famalicão?




16.11.23

Latitude 69°05′S, 51°30′W


Abandono os livros. Sou abandonada por eles.

O que vem primeiro não sei.

Sons.

Acontece com gente também.

Palavras.

Você ouve o adeus quando já está lá na Antártida desde o princípio.

Fóssil espalhado entre as pedras.



10.11.23

6.11.23

Allegro insopportabile

 

18:35 é a mais bela cor de Veneza. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos para contemplar aquele irreprodutível azul. 

18:38 um fulminante vaporetto bêbado divide nossa gôndola ao meio. 

18:42 irrespirantes, escalamos a arquitetura palazzina feito ratos. 

22:13 ao naufragar no poema-canal, eu cogitaria todo um novo mundo de formas:  Basta um só verso-rebocador belíssimo para empurrar outros vinte paquidermes.

9:10 à janela da chambre venitiènne penso alto, Não sei por que falam tão mal das águas fétidas de Veneza se deviam elas também ser patrimônio da humanidade por abrigarem no fundo de um lodaçal ticiano as bactérias descendentes da microbiota intestinal de Vivaldi. A ruminar um tiramisù, você não dá ouvidos a minhas considerações sentimentais. Vou tomar meu décimo banho e coloco La caccia para ouvirmos.



Salvatore Quasimodo


Todos estão sozinhos no coração da terra,

apunhalados por um raio de sol:

e de repente a noite.

Salvatore Quasimodo, "Ed è subito sera". (Trad. Maira)