26.12.19

Bamiyan



Senta ao meu lado na cama.
Torce o pano azul sobre prato azul.
Embebe minha febre.

Puxei-a pela mão por passagens secretas.








24.12.19

El labirinto de senderos que se bifurcan





Pedi-lhe uma Mauser.
Que coubesse em minha mão como um seio,
um helleborus,
um envelope aéreo amassado.
Pronta entrega.
Pago em dinheiro.
A senhora vai gostar,
disse solícito o simplório Lebensborn.
O sol se pondo em sua íris como um alvo.
Levei-o ao meu labirinto de senderos que se bifurcan.

Todo homem precisa de uma Mauser.







12.12.19

O céu da Pérsia



Meio espetaculoso aqui.
Como o cinema.
Não sei em quantas biroscas entrei chamadas de “Casarão”.
Tark.
Trier.
Farc.
Skoal.
Na vida real é tão mais simples, repentino e opaco. Só um alvoroço rápido.
Depois os passarinhos se assentam e voltam a cantar.
Tem telão demais. Teto baixo. Não devem querer que a gente se levante nunca.
Olha pra rua. Os carros passando.
Os passos da Morte correndo no cascalho.
Dá-me o direito de morrer quando tenho sono.
Queria viver sem notícias. Anos depois acordar como de um coma.
Que música é essa?
Onde?
Naquele Monza ali parado.
Quem ainda tem um Monza, cacete?
Pôxa.
Pôxa o quê?
A música.
Como foi bacana te encontrar de novo.
Essa mesmo. Deve ter a idade do motor.
Você não sabe como eu acho bom.
Esse lugar seria pior se se chamasse Night and Day.
Whisky, dats the ticket!
Me conte aí uma história triste.
Vou casar mês que vem. Mas só podemos no dia propício indicado pelo astrólogo.
Você não mudou nada.
Tem certeza de que está vendo o todo?
Não. Queimei meus velhos cadernos do todo num tambor 200 litros.
Eu te falei que você não ficava nem uma semana.
Escrevi um conto sobre uma família extremamente tediosa em que nada acontece.
A ponto de nem o texto acontecer.
Isso.
O marido passa o tempo concluindo a letra U do seu Dicionário Enciclopédico da Psique.
Só a letra U. Não tem outra. Mulher e filho entram e saem. Entram e saem.
Gosto de Apart Art.
O confinamento com divisórias bem definidas num espaço mínimo sem margem de manobra.
Com o tempo as palavras explodem as paredes ou se calam para sempre.
E você quer falar do se calam para sempre.
Sim.
Skoal.
I have the feeling that all the legends are coming true. And I feel too weak.
De quem é?
Annemarie Schwarzenbach.
Vamos cantar “Pôxa” pra Annemarie quando encontrarmos com ela no céu da Pérsia.






9.12.19

Não é nada




Centro de São Paulo. Você se encontra com uma ex. A pedido dela. O apto. 605 é um lugar
neutro. Nunca esteve lá. Você sai do elevador. Você chega em ponto. A hora que ela marcou.
Helena sorri. Sua respiração acelera. Você não sabe por que foi. Concordou, e só. Talvez
porque houvesse mais palavras. Mas Helena não estava sozinha com elas. Há dois casais
afastados, calados, perto da janela. Você não entende. Tem uma câmera apontada para os
quatro. Chove. Você e Helena conversam baixinho horas num sofá pequeno olhando a cena
por olhar. Os dois casais e a câmera não se entreolham mais, nem se dão conta da presença de
vocês no nicho escuro da sala. Meses, anos. Num fim de tarde você vê no cinema todo o seu
diálogo com Helena correndo na tela encardida. Um filme que agora esqueceu o nome.
Frases iguais, intercaladas, revezadas.
Suas.
Dela.
Indefiníveis.
Noite Vazia, você lembra.
Suas mãos enregelam na poltrona.

— Você não gostou de mim.
— Não é nada disso.
— Não é nada disso…
— Não é nada…







8.12.19

Langauge (2019-2024)




Langauge




Todos os textos, frases, neologismos, reproposições (cortes e releitura) de versos, e despropósitos em geral, publicados nesta seção* são de minha autoria, exceto quando assinalado em contrário. Qualquer semelhança é mera coincidência.


---------------------------
* Langauge: escrevo assim para ressignificar como calibração
e manipulação de palavras, conotando também a unidade de
medida das bolas de chumbo dos canhões.
---------------------------------


Langueweile

+
Laclos' Dickinson

Dear fiend,
Our sweetness intime dates

+

L'amour c'est un enfant de le Poème.

+

Roman à ennui.


+

Microliteratura

Cervantes: "a otro parecerá siempre otra cosa"

+




La vida va tejiendo incesantemente estos hilos entre individuos y acontecimientos, hasta tal punto que ya no soporto más los cuatro.


+

Non sono una poetessa, sono una sofferente.

+


Estoy anónimamente fragmentada.
+


If Kunst is de vraag, den vat is de ant vord?


+


Um ka'pii de culpas.

+
Il Brasile sta diventando un paese inconversàbile. 
+
O mundo estará morto no exato momento em que eu estiver.
Uma estranha sensação de potência.
+

¿Puedo ir al baño?

Aquele momento extênuo onde a dor é tanta

que não sabes mais se obrarás como se consente

ou se tudo trasfegará para o conduto da frente.

+

  O mundo estará morto no exato momento em que eu estiver. Essa estranha sensação de estará  
Crawl For Your Life Bar – Denver:
nice dishonored
nice swing
nice glove
nice shot
frente al semáforo rojo

+

Une saison compliquée

Vou gravar um álbum 

com as piores músicas de papai.

🎷


+

Os poemas que li não valem uma composição de Satie.

+

A cerca de um coração selvagem.

+
A Ordem dos Mínimos
Ele não gosta da minha poesia. 
Eu não gosto da dele. 
Estamos quites. 
No big deal. 
Erguemos uma cerveja da Paulanerorden.
Brindamos. 
Cada um no seu país. 

+

Se não se sente à altura, prefere não pular. 
Desafio glorioso é conversar com a Morte todo dia. 
Escrever-lhe palavras expressivas ou desatiladas. 
Deixar que outros leiam e chamem do que quiserem. 
Pensem que é para alguém. 
O Brio. O Elogio — até agradece. 
Não importa. 
Não estaremos aqui quando começarem a vender o ar. 

+

dor no peito, engole barbitúrico. 
outra dor?, engole mais 3. 
pelo menos vão me pegar dormindo.

+

Quanto mais falo ou escrevo,
mais o silêncio vibra em minha cabeça
e exige sua vaga perpétua em meu estacionamento.

+

Pienso que mi pensamiento no piensa lo que veramente pienso yo.

+

Buscarás en otros brazos lo que dijiste a los míos y no les dirás nada.

+

Eu espero
Os ressentimentos
Pois aqui quando anoitece
A festa é no meu apartamento  
+
Woman
Ooh, ooh, ooh, Weil, Weil
Doo, doo, doo, doo
Ooh, ooh, ooh, Weil, Weil
Doo, doo, doo, doo  
+ 
To Edna 
Ah, sweet, absurd, 
Benzedrined, bedraggled bird!

+ 
Knock, knock, knockin’ on O’Hara’s door.   

+ 
Homeless of speech 

+
A estética roda gigante. 
Tudo se movimenta sem sair do lugar.
+
I  solation.  
+ 
A sua miopia 
Tiro os óculos.
Deito a cabeça no encosto.
Olho torto para a tela.
E.
As legendas são poemas concretos.

 + 
The Rumorettes 
 + 
Somaphone
 + 
Les yeah sans visage 

+
Tisífone, comece com aço temperado.
+

poietikê technê

 
+ 
É mais ou menos assim.
Os delírios de um momento
não combinam com os do momento seguinte.
 +

—  Você não me escuta. O seu mundo é todo por escrito. 

O caminho que vai do seu ouvido ao centro da fala no cérebro é um labirinto de 

minotauro. Quando não presta atenção no que dizem e não responde, é porque 

esse minotauro se agigantou, engolindo todo o espaço. 

  —  Meu bem, eu estava só almoçando distraída.


+

Não sei o que me deu

Escrevi um poema que era seu

+

 
Bio: translater.
+

Rima oris pro nobis

+
Faço traduções sonoras de línguas que não entendo.
 +

Indigenciar o Éden pela palavra.

 + 
With my purest placebo intentions.
 + 
Chernobyl
a foto dos bee gees na parede abandonada
 + 
Atravesso a cidade com os pulsos do carro abertos.
 + 
Daemondiceia
 + 
Necromorfema
+
Bamiyan
senta ao meu lado na cama
torce o pano azul sobre prato azul
embebe minha febre
puxei-a pela mão por passagens secretas
 
+ 
succubus affection

+ 
Tua única obrigação como escritor 
é ser letal a ti mesmo.

+ 

quando acha que sabe onde encontrar
ela finge saber como fugir

+

E da cor da luz do Sol Eu Te Amo

+
 
singing a lesllaby for you

+ 

dos prazeres

som de alguém cantando no rádio
distante o suficiente 
para não se identificar cantor ou música

+

Doomsday
Over the line, we think twice
“You’re not Millay”, you say,
But it will have to do
And I’ll speak to you ‘bout time

I’ll be on my desk, for sure.
You can rest as sugar – 
Til’ my doomsday. 
These are not the Leaves of Grass 
That you came for (so fast).

And the pain, it subsides
With the weight of all your
Wild thighs. 
 me myself repurposing  
+ 
Vida e morte, dois lados do mesmo fórceps.

+

Os seus assassinos não são os que puxam o gatilho. 

Tudo começa ainda no berço. 


+ 

cinzeiros jorge de lima na cabeceira do hotel

+ 

quando todos os gestos humanos são sinais de
tédio em Libras.

+ 

o céu de rodinhas. levo pra lá. levo pra cá.

+

Ho bisogno di un dentifricio mentale. 

+ 

No tears in the table for a checkmate
Only a pleasure in their pathless words

+

Dicionário de Términos Musicais

+

Hormônios, a quem Hesíodos chamava de Eros.

+ 

shell me
love isnt true
it s just the same thing
that we two 

+

as garras de Lumière:
cortar a memória até caber num único fotograma estático.
o pensamento. a obra completa. a vida.

+ 

rua Sete de Setembro:
a atriz muda que vendia bombons Bhering.

 + 
 
Instant coffee, waterphone calls,
 then it was easier to nosh the flesh with salad.

 + 
 
Edna, 
 I know I'm just a Butter Poetry to your heart,
 And not your full four Bacons of the year.

 +

If thou art walking past an old n’ dark bookstore that is open in the middle of the night, enter, please. There I shall be, waiting for your hot borgian babeling blood. 

 + 
 
Time passions but nothing changes.

 +
 
Woolfesque: A Hole of My Own.

 +  
 
Vínhamos a pé, e muito vinho.

+
 
el centro de una muerte
 es otra muerte

 + 

Para dar uma forcinha à êmese e lienteria,
pesquiso fotos de burgueses desprezíveis.

+ 

ticket to herd
o texto que diria pelo resto da vida
já chegou pronto da maternidade

+ 

Mar: 
para a onda, você é o obstáculo.

 
+ 

Subi na prancha e vi logo que de pé não ia rolar.
A força estava em braços, peito e ombros.
Deito e remo de braçada.
Para longe.
Até não distinguir se é gente ou mosquitos o que vejo.
Espero.
A onda certa é só sua.
Gramática líquida, sal e cálculo 
o mar é um bom amigo.
Peça licença.

+
Rua 
Desabalados

+

O anúncio diz que só Sako Fort é resistente para limpar qualquer piso ou superfície, mas para os dentes prefiro palitos. Sim, palito dentes. Todo palito, pós-palitação, serve como marcador de livro. À mesa meu Malte Laurids Brigge tem quatro deles espetados assinalando oito páginas inconclusas. Quatro vezes tentei ler este livro sem sucesso: livro bom é aquele que nunca lerei. Como leitora procuro falar o mínimo. Além de marcar livros, palitos são como armadilhas para formigas, se você, como eu, gosta de matá-las. Eu não só gosto como me divirto, torturando-as. É uma obsessão diabólica. Coloco o palito usado dentro do livro. Atraídas pelo fragmento recém-extraído de minhas reentrâncias bucais, ainda cheirando a matéria orgânica, elas são obrigadas a entrar no livro se quiserem degluti-lo. São obrigadas a passar por um corredor polonês de palavras inodoras que na certa jamais leriam, que dirá comê-las. Não existe tortura maior, hei de convir. Lá dentro as letras de Rilke têm pernas e as arranco uma a uma. 


+ 
no papel escrever textos novos por cima de antigos. ninguém entende. também pelo meio de postagens antigas. ninguém vê. ninguém fuça arquivos de blogs. todos muito ocupados networking. blogs são uma Pripiat.

+ 

"o grande segredo é concentrar-me em coisas que não podem ser tiradas de mim. o passado, por exemplo, uma árvore, e a poesia." 

[anna kavan, traduzi]  

+ 
in nidof uh typewriter dat wertyes.
startin uh fight against de standartisation
of private spellin.

+

Avoiding Virginia by the river.

+ 

Sabes, Mario, parei de beber porque, ao contrário do que imaginava, a certa altura o álcool deixava-me sóbria demais. Em seguida o pânico. Há um elevador separando cidade e oceano. 

+
"Os doentes mentais são como beija-flores:
nunca pousam, ficam a dois metros do chão."
(arthur bispo do rosário)

+

Dorme na companhia de animais.
Sabe que precisa continuar.
O coração do cachorro é seu relógio de pulso.

+

para obter uma fortificação simples cave um fosso em V a terra retirada coloca-se atrás por cima da qual ergue-se uma paliçada de madeira ou muro de pedra flanqueados por torres onde morrerão flechas e dardos lançados por teus inimigos ou um escorpião ocasional (tua carne sobre a tábua é um mapa que tens que dividir, quando te pedirem a mão oferece o sebo)

+

As feridas que fecho com água salgada e sol

A vida não tem nada de melhor ---
essa lesma indolente rastejando no retrovisor
a menina-rua que observa minuciosamente
quatro rodas parando de girar
seus analectos 
o bolo queimado de um aniversário
o coro grego da vegetação em volta:
e se dissermos que ela é morfética?

Os ponteiros voltam a girar e levam-me dali 

+

passarinho saltitando nos galho 
é mais bunito que a tua poesia 
a luz do céu antes do amanhecer 
formigas inaugurando civilizações no oco dos bambus 
nossas vaquinhas de chifres liriformes 
nossa casa resistente a metralhadoras 
o rio desaguando em três mares
o papel  do poeta é fazer rcps da raça humana 
hawaiian boi
gosto de músicas que me levam à praia pela mão

+
Quando adormeci, 
o tradutor por voz registrou na tela minha respiração: 
ooooooooparaooooooooooocccoooooooparaparaoooooooccccoooooooooooooooooooooparaoooooooooooooooooooparaooooooooooooooooooooooooooooooparaparaooooooooooooooooccccccc
+
Menina do fuzil de lua e estrela
Raios de sol, no céu da cidade
Brilho da foice (oh oh oh oh), noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade
Manhã chegando, burgueses morrendo
Nesse espelho, que é nossa cidade
Quem é você (oh oh oh oh), qual o seu nome 
Conta pra mim, diz como eu te encontro
Mas deixa o destino, deixa o Seu Castro
Quem sabe eu te encontro, de noite no Baixo
Brilho da foice (oh oh oh oh), noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade  
+
Scriptortropia.
+
Olhando da mesa para o teto.
Do teto para a janela.
Contabilizo pedestres.
Ponho todos na planilha.
Exagero.
Queimo.

+

– Quem escreve quer ser elogiado, admirado. Quem escreve 

   quer ser amado.

– Não, o que eu quero é livrar-me desse pus.


+

O filme tem uma sonoplastia para cenas de morfina:
três toques de sonar.

+

Orgias de álcool gel lavam-me também os bacilos da vontade.

+

Bardo: o curral onde pernoitam poetas miúdos.

+

Moscas não dão ré.

+

Settecento:
Difcurfo fobre a Poefia em geral, efpecialmente naf Odef. 

+

Lima Barreto, nossa conversa no Hospício: "a mocidade acadêmica, de que fiz parte, cada vez fica mais presunçosa e oca." Na academia, a cada ano reparava o mesmo nas novas levas entrantes. A cada geração é maior o acúmulo de info desenvolvendo processamento básico para cerebelos compatíveis com animais atemporais expostos no ciné, ma vérité. "os ricos de hoje não gostam de árvores..." de fato preferem alqueires e alqueires de gramados inférteis inúteis para exibir a outros ricos. julgam que árvores fazem sujeira -- essas folhas caindo o tempo todo, melando nossas piscinas e gazebos. "o ar azul dessa linda enseada de Botafogo que nos consola na sua imarcescível [ilegível]", imarcescível de immarcescibile, latim, significado: inalterável. Em português inventado, contraetimológico, imarcescível me sugere mar não acessível: por ex., a imarcescibilidade dos desertos. o oposto sendo marcescibilidade, a condição de o mar estar logo ali na esquina. e por aí vai. "pajear malucos", ofício hoje bem mais lucrativo. "o que se passa em mim", linda construção poupando-nos do ordinário comigo. "vou à bebida", em vez do simplório beber, nos permite vislumbrar a criatura bêbeda acelerando o passo em desespero na direção de sua salvação. 

Começando a ler de trás para a frente:  "Descrever a noite" chama minha atenção. Mas há uma noite para cada um, cada mundo, penso e anoto. "Pinacoteca Piabanha", delicioso título para possível estabelecimento ou sítio, no Hospício de Lima é só uma frase repetida por um adoidado. "Vaidade doentia", sinal de loucura, todos já sabiam à época do Lima. Barreto fica nevroso com a má prosódia alheia, quem pronuncia inercía e esteríl. Teria um surto histérico no século XXI com cada "catarze" pronunciada em público eletrônico. Temístocles não vendeu seu talento ao inimigo. Matou-se: Barreto lê em Plutarco, a quem chama de o beócio P., nos sentidos geográfico e boçal, por este classificar como ilustres também os que se vendem, Coriolano e Alcibíades, embaralhando os três no mesmo chapéu. Maluco pedindo alta já é demonstração de maluquice, Lima, custa nada tentar. "Atirou fora os abacates", leio atiçou os abacates. Pisco. Leio de novo. Lá fora o estrondo da carroceria compactadora de lixo são passos de dinossauro atravessando a rua. Amanhã continuo a leitura. Ponho o vídeo Writer's Library from the 1930s de 4 horas e vou dormir.


+


Praia sobre tela

foi o que ficou
o resto veio a baixo


+
Limite Aviamentos: Minutagem
Colchetes de pressão  00:19:45
Carretel de linha Retors d'Alsace DMC  00:20:00
Botão  00:20:20
Tesoura  00:20:50

+
noite de hotel
ódio a granel 

+
Heart on the gasp.

+
Vocalizes para iniciantes:

"Meu nome é Márcia.
Tenho 17 anos.
Acho que não sei nada.
Minha vida é calma.
Já é verão em Ipanema."

+
Acho que a tradução de versos livres permite uma participação maior do tradutor ao transladar o sentido do poema, pois deve manter principalmente o “clima” em que ele é expresso mediante uma escolha e posicionamento especial dos termos. Já traduzi uns dois ou três poemas em versos livres que me deram mais trabalho (indecisões, alternância de escolhas etc.) do que os de forma fixa. O importante é manter a plasticidade do original, o verso livre está mais próximo do pictórico do que do lírico. [Ivo Barroso]
+
Na tradução do poema “Mémoire”, de Rimbaud, o senhor optou por substituir os alexandrinos e as rimas do original pelo verso livre e branco. Em quais condições o senhor considera justificável a adaptação do esquema formal do texto-fonte às especificidades de nossa língua?

Ivo Barroso: As tentativas de manter métrica e rima desfiguravam o fluxo não cadenciado dos versos. Acabei me convencendo de que se tratava de um poema “plástico” e que era necessário manter suas – digamos – circunvoluções. A solução foi uma sequência musical de equivalências, se é que isto faz sentido.

["sequência musical de equivalências". perfeito, faz todo sentido. excerto retirado do blog do sr. Ivo.]

+
Madame Balduína Sayão (Bidu para o mundo) cantando Bachiana n. 5 na sua charrete lá no fundão da mata da praia do Perequê e eu consigo ouvi-la.

+
"Diante da frase mais banal do homem mais banal com um pouco de imaginação a gente cria o mais perfeito dos poemas. Porém esse poema é interior e na frase mesmo ele não está." [Mário de Andrade]

+ 
Secando o cabelo
55 x 37 watercolor on bockingford paper 190 gsm

+ 
We on a Vespa. 
The purr of the scooter.
The gentle flap of her white shirt in the sea breeze.

+

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um caminhão 
Se espelhar no seu olhar
Até Quibir 

+ 

No início tudo era água
que o tempo foi secando.
Todo deserto era fundo de mar 
dizia Camilo Pessanha a quem quisesse ouvir. 
Não o poeta, mas um velho bêbado do circuito boêmio 
da Conde de Lages. A mesma rua que de uma janela no 
alto atirei décadas depois o livro de um poeta cujas 
iniciais do nome formavam a sigla de um vírus fatal que 
acossaria a humanidade no remoto e nada saudoso ano 
de 2020. Camilo não existe mais, nem a Conde, nem 
livros ou poetas. Mas aqui no tubo de concreto onde moro 
ainda posso ouvir Villa-Lobos, antigo frequentador da Lapa,
hoje Latin America Placement Agency. 

+

Arrancar um dente é perder parte da memória.

+

Imitations of Drooling: 
This August I began to dream of drooling.

+ 

Tudo se passa num montinho de a gostos.

+

faixas de sol entram pelas frestas da porta,
batem no rabo em movimento do cachorro
que espalha a luz pelo ambiente com
efeito estroboscópico. manhã.

+

Parnasianos, os coveiros da boemia.

+

"Construindo a narrativa com enganadora simplicidade": 
já vi que deve ser uma merda.

+ 

Cheguei do Atlântico e não havia mais o Vale.
Izi kandaliláli?

+

-- But what about us?

-- We'll always have Kansas.

+


Aniversário.
Partir o bolo como se estivesse saindo do mar


+ 

não quero deixar atrás de mim 
um rastro de autopropaganda

+ 

dividindo barbitúricos com a precisão do cutelo.
   para que nenhum miligrama se perca na tábua de carne.

+

surrounding the sky while it grows

+

saudade de um posto de gasolina.
ali uma cerveja. um salgado. sossego.
olhar o nada onde coisas triviais acontecem.

+

Poesia: coisas, imagens, sons e instantes polinizadores da emoção.

+

arte boa é aquela que encaixa certinho 
com nossa neurastenia.

+

há certas coisas em que não interfiro nunca.
quando minhas 💩 💩 discutem

+

se ela deixa um livro no corrimão da sala por meses, 
eu preciso respeitar isso. deixá-lo ali. 
ela quer passar por ele e vê-lo ali. 
saborear a capa. ontem peguei o livro para ler. 
hoje pensei e pensei. vou colocá-lo de volta no corrimão. 
aquela ausência pode deixá-la triste de algum modo 
mesmo que ínfimo. e isso eu não quero. sei esperar. 

+

suddenly by suddenly

+

Se tu soubesses
naquele dia o que sabes agora
tu não serias este ser que chora
tu não terias perdido ah eu 
+


Absconde te in otio; sed et ipsum otium absconde. 
(Sêneca)

+

"A felicidade deixa sempre uma chaga." 
(Hannah Arendt)

+


"to imagine a language is to imagine a form of life" 

(cy twombly)

+

"Um dia farei um jardim 
nessa tua sombra 
que se estende sobre mim." 

(Éluard, traduzi)

+

por que forçam-me a crer
que Deus sonda meus rins
penetra o fundo do coração
e ouve minhas palavras?

+

Drame 
et à la fin de chaque acte 
Je nettoie avec un torchon 
les mains sales 
du sang des chansons  

+

Há algo errado no paraíso 
É muito mais que contradição 
Você caindo num precipício 
Eu me jogando de um avião  

+

"procuro uma palavra para me referir às forças 
que passam a operar em torno dos objetos 
quando ninguém mais os toca" 
(Mar Becker)

+
noites plásticas
o pequeno rito morto de oferecer a cara ao sol
      porque telhados assim o fazem

+

Em nenhum lugar
  existe treva alguma.
   As noites são obscuramente azuis.

+

isolamento social

rejuvenesce um ano
a cada mês

+

não são minhas palavras
os vossos ouvidos

+

Afonsinas

A vós, arlota, meu cor,
leixo des oimais
ũas lirias recreúdas
e meu recto afeito.

+

To write a lyric poem
I kind of need to be in an ambulatory care facility. 

The purpose of poetry is to turn ink into blood.

+

Mensæ cælestis participes faciat nos, Rex æternæ gloriæ.

Como é bom alimentar-me desta carne. 

O gosto de sangue à boca depois que tudo acaba.

O Domina mea! O Mater mea! 

Amen. 

+

Uma casinha em miniatura, de um azul fechado, 
batentes de porta e janela salmão, interior branco, 
telhado cinza. Fico olhando por alguns minutos 
sem pensar em nada. Coloco o apontador de lápis 
sobre o telhado inclinado de um jeito que não 
escorregue. Sim. Estou toda ali. Escrevo essa visão.

+

So it is better to sleep and 
leave the bottle opened.  


+

estação flamengo

pousou levemente 
a mão na minha coxa
e eu soube que seria
para sempre



+

Comeback

– Quantas páginas a gente tem de ler pra dizer que a 
   tradução de um livro foi uma chacina?
– Eu não sei se tem um número certo, mas quando é uma 
   chacina dá pra saber. Já na primeira página que lê você 
   fala: isso aqui foi uma chacina. 
+


o silêncio uma omissão?
nem sempre.
veja o silêncio estratégico.
ele pode evitar uma morte,
o abandono,
e a lobotomia.

+

[

Till Death do us 

her part 

]


+

Do you like our poetry?
It’s artificial?
Of course it is.
Must be sedative.
Very.

+

À luz de velas

Maria Lúcia Godoy interpreta Bachianas n. 5  

na sala subterrânea de um desatento

casarão de pedra em Ouro Preto.

+

publique-se livre sem qualquer ediçãe per autore ou
funcionare de editore. autore, mostre-se per inteire.
mostre sue colune vertebral.

+

Dorme só, muito mal acamanhada. 

Risca a pedra do isqueiro e as luzes da casa se apagam. 

As avós mortas riem da coincidência, 

olhos crivados nas garças refesteladas nos charcos.

+

Highway 10 East

Naturaleza muerta  

Así es la escritura de Shepard  

Sin tocarte

Coyotes de vías nocturnas

Pausas de lienzos en blanco

para enfriar su Scotch 

+


O poema oculto no fundo de 800 páginas.

Prendo-lhe a cabeça entre minhas pernas.

Aperto.

Transvazo.

Ondas quebram na pedra lisa do meu fígado. 


+

Quisto é bossa nova, quisto é muito natural. 


+ 

Você me dá um grande prazer 

em me aceitar com sua indiferença.

+

Foi corrigir minha gramática, fiz dela um verso.

+

le mot, non: le cible juste.

+

Ir da poesia à prosa é sair da banheira para mar aberto. 

+

Suddenly an arrivederci. 

+

Mi piacciono le donne tedesche con i sottotitoli in italiano.

+


Since ten I was fully aware that I would be destroyed. 

All the rest is metaphor.  


+

I read to slow she’lls and silences.


+

Your past: fictionalised by your unconscious 

Your present: factified by the collective unconscious 

Your future: narrativized by your government

(anonymous)

+

eceu. 

Usava um casaco acolchoado azul e céu. 

A mãe.

Desliguei, foi engano. Capítulo 1

Ela me apar


+

The door alone learneth. 


+

o  tempo

que  o  vento  trouxe

por  um  poema

morrer  foi  fosse

+

désoléetion


+

The aphrodisiac squirt.

Straight from my coochie hole to your étagère à livres.

+

I fall in love to Italy

I fall in love to fast

I fall in love to terribly hard  

+

o último dia do ano e eu falando de “Aristócrates”. 

já era tarde quando me dei conta.

+


Bienaventuradas las olas que empujan tu tequila.

+


Talk Quién

Where there's life there's rope.


+

álbum duplo

not only stômak

but all so vajaina










+

Sabonetes Why Me Ltda.

+

Puxe sua cadeira para a beira de um precipício

e eu lhe contarei uma história. 

[Scott Fitzgerald]

+


Write down everything

     you hate in life.

        Plant it.


+


The artist is a person willfully enmeshed 

in an enema of categories.


+

Partial Piece I

Dream partially.

Dream you.

Dream eternally.


+

What a gulf of blood and ink

extirpates you from me.


+

Há uma idade certa para tudo.

Para furar os olhos das bonecas.

Para furar cartelas de antidepressivos.


+

Ninguém mais entra numa cafeteria, senta à sua mesa, 

olha nos seus olhos e diz: Estou lendo Maupassant.


+

À tábula do repasto, o Onipotente bem que poderia ter se 

limitado apenas a bazofiar sobre o Universo que imaginava 

urdir. Mas teve de estragar tudo no caminho à oficina.


+

Sua casa é a sua biografia.

Pense bem se no fim vai deixar que a leiam.


+

zhenskaya proza


+

DESENHAR E NÃO MOSTRAR

FOTOGRAFAR E NÃO MOSTRAR

ESCREVER E NÃO MOSTRAR

FODER E NÃO MOSTRAR

DIZER E NÃO MOSTRAR

COMPOR E NÃO MOSTRAR

BEIJA-FLOR E NÃO MOSTRAR

AMAR E NÃO MOSTRAR

DESAMAR E NÃO MOSTRAR

TOCAR E NÃO MOSTRAR

CORTAR E NÃO MOSTRAR

SOFRER E NÃO MOSTRAR

SANGRAR E NÃO MOSTRAR

MORRER

MOSTRA

+

Like a river caught by the sea, that would be me

+

imagens slavas salvas

+

Transpapelar

+

How Bitch Is Your Love 

+


Stand, Buy Me


+

     Art 

is an Apogee

   drink

     of

  insanity


+

lingering

l i n g e r i n g

l  i  n  g  e  r  i  n  g

l   i   n   g   e   r   i   n   g

l    i    n    g    e    r    i    n    g

l     i     n     g    e     r     i     n     g


+

O caixão de Schrödinger


+

Ilhas 6 Shelleys


+

Sharon' the night together

ah-yeah, alright  


+

Córsega

 

Ouço minha avó chamando minha mãe  

Mortas, o nome do vento.

De alguma forma ele me encontrou.


+

Lutar pela sanidade é a luta mais vã.

Mal enlouquece já é amanhã.


+

Enquanto às 8 da manhã tomo sol cantando Be My Baby para os meus cachorros, 

você já está online de batom dando palestras espíritas sobre a inteligibilidade e a 

dinamicidade do falar em línguas em contraposição ao ensino formal e normativo-

subordinante da língua portuguesa nas instituições acadêmicas. 

Será que algum dia teremos algo em comum? 

Aquele just the way you are mmm mmm mmm.

+

Eu podia me chatear ao ler uma resenha literária. 

Ao ver que o crítico não sabe que a língua russa tem declinação. 

Que a sua resenha é um press release como todas as outras. 

Eu podia dizer a essa pessoa que está passando vergonha. 

Eu podia. Mas eu não quero. Eu não quero. 

Porque no meio de tanta gente chata 

eu encontrei você. 


+


esforço sobre-humano para amar o que for


+

quando converso, sem que percebam,

penteio mentalmente um caroço de manga


+

[

São pelos sonhos

a única forma de se falar

com Ninguém.

]

+

Se é noite ou faz calor,

Se estamos no Leblon,
Se o sol virá ou... bom  

+

I've never got hysteric in the summer
I've never drank a scotch with piraquê
My life is such a Mass 
Let's pray to Brahma  

+

you could be Morrissey you are

can’t you see

you could be anything

you could be freak 

+

when the trees
are gone

we will rott

+

Clown your longing.

You miss me?

Clown it.

+

You must realize that you are 

my sleeper ship.

+

La dystopie c'est 

les autres


+

Tire sua cidadania valhallesa. 

+

Você me convida para irmos a uma exposição de arte em Heidelberg, 
sabendo o que isso significa para nós, o que significa para mim. 
Um rompimento com tudo o que vivo agora. 
Não devo confiar em você, penso. 
E você me olha com expectativa e promessa nos olhos. 
Eu não não tenho um tostão, digo. Eu tenho, você diz. 
Eu desvio todo o meu olhar do seu. 
Será que sobreviverei a uma longa viagem de avião. 
Abro uma revista e a foto em cores de minha 
"Psiquiatra Ainda Jovem Fala Sozinha" 
canta uma música triste e abaixa a cabeça. 

+

O que mais prezo você não vai me tirar. 

Não é preênsil. 

Não é o fora.

É suave.

Um baque.

E me arrepia.

+

Tataramor

+

4 de maio

a poesia serve para defender o amor

abrir o peito e estar sempre na mira de uma arma

fumar o cigarro da noite

conjugar vida com abismo

13 de julho

a poesia serve para alargar as veias

e fazer passar por dentro o mundo

/

[Giuseppe Semeraro, "Para que serve a poesia", trad. Maira]


+

Aos meus críticos: Y por casa... ¿cómo escribimos?


+











Annemarie: -- Tu sais que je m'en fou. 

(leitura labial)


+

Ao lado de Apollinaire, Picasso olha o Mediterrâneo

-- Que vida de merda.


+

She works me -- everything

And mentally

The deadly hiss she brings

She brings to me

And I love her... 


+

Terminal Get It Over

If you've got leavin' on your mind

+


Comment te dire adieu

Mon cœur de perfex

Vite prend feu

Ton cœur de codex

Résiste au feu

Je suis bien complexe

Je ne veux

Va te foutre adieu  

+


Começando a traduzir, para o meu próprio prazer, o último livro de Marguerite Duras, escrito antes de sua morte, C’est tout.  

Versão infantil, título: Cabô. Infantojuvenil: Já deu. 

Adulta clássica: Id est omnia.


+

A cadeira,

a foto de uma cadeira,

a definição de cadeira.

Não sei em qual sentar-me.


+

Comprei figos no Horto.

Estarão maduros quando você chegar. 

Mas você não veio.

Gambás felizes no campo.


+

SCRVR É CRTR

+

Jeans

São buracos

as duas luas brancas

onde apoio

um livro de versos.


+

The May I Love

One day she’ll come alone

The may I love

And she’ll be a sick unsung

The may I love

And when she comes away

I’ll do my pray for her to stay

She’ll look at me hostyle

I’ll understand

Then with a little guile

She’ll cut my hand

And though it seems absurd

I know we both will clay a world   


+

Vulgaris

Passos no Jardim.

Jogo a clave do Éden no retrete.

No tambor duas balas.

Eu me ajoelho.

Rezo.

E espero.

A primeira reservo para Vós:

Frutificai.

+

Plath: "O melhor do mundo são crianças de quatro anos."

Sylvia, cariño, o melhor do mundo são crianças há quatro anos-luz.

+

Unaboomer

+

Perhaps what remains of innovation
is a conservatism at peace with contradiction

as the sky transgresses its frame
but obeys the museum.


(Ben Lerner)

+

Un vaso pieno di un sapere non mio.

(Medeia)

+

depois de eu ser você

poetas para quê

+

O poema ia ficando tão longo que desmaiei.

+

You used to call me on my chelfone. 

+

Alma Mahler: Letras-UFRJ

+

Não gosto

Só depois

+

o sapo pula na varanda

estrelas acesas

suor de papoulas

+

o que ai no silêncio

+

mamilos de mulher são planetas

de homem, ovos fritos na chapa

+

Minha existência sempre perturbou, o tempo todo. 

Sempre perturbei e sempre irritei as pessoas. 

Tudo que escrevo, tudo que faço é perturbação e irritação. 

Minha vida inteira, toda a minha existência nada mais é do que 

perturbação e irritação ininterruptas. 

Porque chamo a atenção para fatos 

perturbadores e irritantes. 

Existem aqueles que deixam os outros em paz 

e aqueles que perturbam e irritam, 

categoria à qual pertenço. 

Não sou do tipo de pessoa que deixa os outros em paz, 

nem quero ser uma pessoa assim.

(Thomas Bernhard)

+

Hell knows I’m syllables now. 

+

I pain while days heal me & somehow I never end.

+

Só nos duas em cena.

Cinquenta minutos.

Eu não tinha uma fala.

Não tinha movimento.

Paula era a protagonista.

Paula e seu desespero.

Seu desespero, meu primeiro papel no cinema.

+

"Language is what eases the pain of living with other people, 
language is what makes the wounds come open again."

(Anne Carson)

+

Eu falo por mim mesma, se bem que minhas feridas não deixarão de 

coincidir com as de outra supliciada que algum dia me lerá com 

fervor por eu ter conseguido dizer que não posso dizer nada.

(Alejandra Pizarnik, traduzi)

+

I love you, oh say it with pebbles in your mouth

+

Everything starts from a comma.

+

Colocar o preço da cebola num poema

+

São estrelas o que vejo daqui, ou fogos de artifício que os povos

daquele planeta moribundo estão lançando para

celebrar o seu ano novo?

+

O deal bar do dia.

+

Absinto muito.

+

Take a walk on the Wilde side.

+

Whitman leaves off grass.

Whitman matagal afora.

+

Tê Tê, Têtêretê Tê Tê, Têtêretê

Pela literatura Taj Mahal!

+

Love is all you did give,

Proportional to my grave.

+

A porta da Ruah é a serventia da casa.

+

Let's play "nothing to tell".

+

Laundry Publishers & Co.

+

o mar vem e passa na areia

onde escrevo o que eu penso como se ninguém lesse

+

turntablismos poéticos

+

let's die for breakfast


+

Chicago typewriters

Você não me disse que tinha distúrbio de interpretação do som,

ela falou quando chegamos na praia e não eram ondas

o que estouravam no mar.

+

Azulejar

um mero olhar,

a melancia.

+

Há cachorros que olham fixamente o céu por nada.

Não para farejar, ver um avião passando, uma presa.

Há cachorros que olham por nada.

Esses me acompanham.

+

There is hope.

There is rope everywhere.

+

My feelings always spasming me in a cramped tomb of ideas.

+

Silence is the master of the utmost suffering.

+

Uma fadiga ceder sem se fazer notar. 

+


c'est noir cosseno b


+

Writing, hold a pen in thine hand.

For blood must creep into the ink and both soak thy words.


+
The soul hugely itself.

+
Angel of my shoulder.

+

“Lingua nulla discitur e grammatica sed ex auctoribus idoneis.” — Comenius
Et tu? Esne idoneus auctor?

+

Reptil-me, Camaleoa


+

All psychology so far has got stuck in moral prejudices and fears. poetry/
It has not dared to descend into the depths.

+

passeando com chavela sob palmeirais cubanos.

deu match no app do smart que não os tenho.

+

acabou. acabado está. não refaz os passos. não pediu desfechos.

e se acontece encontrar,

uma repulsa funda e imprestável se espreme entre vogais educadas.

+

Whatever improves my "no" to life is a value.

+

A nighttime with poets


Sitting over martini drinks in a small cafe and talking with Anne

about our respective technicalities to blow ourselves up with gas

blank verses, and who would be the first.

"Oh, but I wish to publish all my opus before doing it, Sylvia!"

Anne says blunty, and I feel she is a fucking sly motherfucker.

For what she really means is "Your role in this melopoeia of ours is

to be left holding the bag, sucker!"


+

eu nunca fui o cinema

não sou o seu samba

não sou Ipanema

não sei nem andar até o Leblon

+

I need you to off my clothing

put me down and feel the colding

'Cause underneath this oven feels so good to me

+

não sei por que esta pose

este diploma

seu wittgenstein

o botox

você

venturo lixo de cemitério contaminado

+

Quero ser enterrada abraçadinha com um boi.

+

sol da manhã

relincho de cavalos

tap dance de passarinho no telhado

nada importa nunca mais

+

La vida va tejiendo incesantemente

estos hilos entre individuos y acontecimientos

hasta tal punto que ya no soporto más

vida hilos individuos acontecimientos


+

here is not here
for here's risen

+

Sometimes alluring textures and subfaces are waiting
to be found from closer than one would ever think.

+

Narrate, narrate, narrate until all your yous die.

+

Moralistas, escafedei, pois eis que agora me confesso. Da encantadora poeta Sexton quem dera ter sido eu a venerada filha
para que à noite em nossa alcova realizasse ela em meu corpo os
seus sonhos gozosos mais pervertidos.

+

as ondas passando, eu quero

é passar com elas eu quero

+

Há um verso assim late at night, when the books begin to read themselves

porque alguma coisa eles devem estar fazendo em sua vida inteira ao

meu lado enquanto os esqueço.

+

A doação

Ver laboratórios de anatomia da universidade saindo no tapa para

possuírem seu corpo, algo que nunca lhe aconteceu em vida.

+

♬♮♩♪♮

minha assinatura musical


+

arde o gás que faz esta canção

será que você vai me ouvir?

tua

+

Covarrubias


O ancinho d'Ana -- anciana

esquecido na escalera desde 1934.


+

Quem não se mata é, de alguma forma, alguém que se prostitui.

(Cioran)

+

O caminho de cerejeiras da casa ao lado está magnífico.

As cerejeiras lembram do dia em que brotaram,

eu estava de bunda de fora e saí correndo, disseram.

Cerejeiras aprendem cedo a dar nome às coisas.

+

tantos cantos diferentes de pássaros --

por dois segundos estou num submarino

e da areia alguém me chama


+

Avante Be Alone

+


Your Kind


I dont translate Sexton. I do love her.

Dont want to shit her work.

I dont translate Sexton. I make poems for her.

That's diff.


best regards


+

aquela poesia que eu esperava crescer com o tempo não cresceu o poeta sim aquela poesia poesia que eu não esperava crescer com o tempo não cresceu e o poeta também não aquela aquela poesia que eu não esperava crescer com o tempo cresceu não o poeta o tempo que que eu esperava crescer


+

Pienso en el dia de ahí, ahí, ahí.

+

Imagine there's no heaven.
Imagine there's no countries.
Imagine no possessions.
Imagine all the people.
Dig a hole in your garden to put them in.


(On Lennon's Imagine & Ono's Cloud Piece)


+


quando não gostam, não entendem e horrorizam-se,
aí mesmo que eu insisto.
eu gosto, eu entendo, eu me horrorizo.

+

Gladíolo, para romanos “gladius”, para gregos “xiphium”, “xiphos”, a espada. Oferenda a Iemanjá e a gladiadores vencedores, a flor. Lírio de de espada. Fúnebre. Medeia em Atenas pariu Medo.
Espadas sangrentas sob a chuva. Flores pisadas.
Era inverno no Coliseu quando nasci.

+

I can pretend I don't miss me (me) I can pretend I don't care All I wanna do is kiss me (me) Oh, what a shame I'm not there

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A.P. sugeriu-me o título: "Mi locura que es obra tuya."

+

Romantasia = lit., ver Vomitasia. (Urge aparelhar fortemente o espírito.)


+

a lembrança de tua cabeça no meu colo adormecida

hoje docemente escondida sob minha pele dolorida

+

é uma meiose

uma mitose

sou dependente do amor

+

tanto faz publicar ou incinerar no diabo que os carregue

não se consegue nem fazer o tempo lembrar de outro tempo

+

apaixonada?

não, só tuberculosa

(filmes ruins têm seus bons momentos)

+

Na chama imóvel da vela, todo pavio faz um personagem.


+

Szymborska: corte

Redigir currículo.

[......]

O rugido das fragmentadoras de papel.

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What seduces you most in a person? The voice. Deep and warm. Adult. Just the voice? Eighty percent. The rest I'll think about later.


+

Pina: releitura

Toda via, em vez de metafísica ou biologia,

dá-me a mais inespecífica forma de melancia:

nem por isso lírica, nem por isso menos poesia.

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Laclos' Dickinson: releitura


Dear fiend,
Our sweetness intime dates

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