27.8.13

Pillow talk 1


























Tu comia Gainsbourg ou Sartre? Lógico que o Sartre. Amarrava o velho numa cama Luís XVI e dava uns tapas. Serge eu deixava esticado no chão, um tapete de pele para eu pisar naquela cara c'est la vie qui veut ça. Hemingway eu mandava afiar minha coleção de facas para aprender a não sujar as paredes de miolos. Beauvoir seria minha dentista. Bishop ficaria na cozinha o dia inteiro fazendo ovos moles sem um relógio para calcular o tempo de cozimento. Emily eu colocava de joelhos para rezar Shakespeare de cor à luz do lampião, se errasse começaria tudo de novo. Pound seria a atração principal num picadeiro. Botava encarando um elefante e dizendo um único verso meu, "Digo que te amo para decifrar-te". Pessoa eu pendurava nas costas e saía correndo. Ginsberg e Kerouac, nus e algemados num baú sem maconha, eu jogava em alto-mar e só libertaria se compusessem uma ode ao Pantalassa. Rilke, não sei o que faria com Rilke. Borges lavaria o chão das gráficas do Vaticano. Emerson comeria hóstias até empolar-se. Taí, eu não comeria a Szymborska. Contaria uma piada. Marianne Moore seria meu cisne alfa. Um bondage com Auden. Uma adesividade com Whitman. Com Goethe não daria liga. Para Eliot compraria pantufas. Charlotte eu mandava plantar batatas de paróquia e me deitava nas urzes com a outra Brontë, Emily. Camões, ah coitado. Gil Vicente nas pós-liminares me dizendo, "Senhora, eu me contento", não é lindo? Cummings, de Buffalo Bill, lógico. Chaucer ganhava o meu Nobel, por escrever "yonder" em vez de acolá, e me chamar de "alderlevest". Descasque Dorothy Parker e encontrará uma inimiga, sim, acho que eu dormiria com Dorothy.