Ele sua a camisa para se promover. Comparece
a tudo. Onde houver gente reunida online e off, lá está o dedinho dele. E ainda
é paranoico. Aposto que se ler isto aqui, vai achar que é pra ele. Não é. É pro
outro. Ou outra. Daqui de longe não vejo bem. Aquilo é um homem uma mulher ou
um poeta? Um rato, corrija-se. A expressão conhecida é essa. Ando esquecido. Sempre
andei esquecida, mas hoje até quando se esquece um prego no reto é Alzheimer. Tudo
é Alzheimer. Será que ninguém entende que não há espaço numa cabeça para caber
tanta gente, tantos números de ônibus, tanta morfina? Botar um piercing na
buceta não é Alzheimer. É moda. Eu gostaria de ser um homem uma mulher um rato,
mas tenho de ficar escrevendo isso aqui rápido e não há mais tempo. Daqui a
pouco vou querer escrever outra coisa porque me canso de temas e personagens. Eu
poderia escolher as opções texto preto e fundo preto. Nem eu saberia do que
estava falando, como nas filas de cinema de shopping, numa palestra sobre os
poderes implícitos da psiquiatria e das palmeiras imperiais no Segundo Reinado.
Mas só que eu tenho um vizinho que é homem. Debaixo dele tem uma mulher,
debaixo da mulher tem um rato, debaixo do rato tem um poeta. Daqui de longe não
dá pra distinguir quem é quem. Além do Alzheimer, vão dizer que sou cego. Cega.
Malditas desinências de gênero. O português é uma língua sexista. Sexo-segregacionista. Não
fossem os poetas portugueses, não gostaria dessa língua. A palavra gênero já é escrota. Lembra supermercado, faculdades de letras. E o que é o Brasil?
Grandalhão. Um brucutu de costas pro universo, marombando suas placas tectônicas. Esta cachaça esparramada no mapa. Você vive 100 anos e
não conhece inteiro. Todas as cidades, ruas e buracos. Principalmente os
buracos, a melhor parte de todas as coisas. De um corpo. De um livro. De uma
casa. No buraco de um livro se conhece o autor. Você fica rastejando ali dentro
para entender o que ele não está dizendo baixinho. Uma casa se finca num buraco
maior infestado de buracos menores que a massa não cobriu. É ali nos buracos menores
que alguém chora escondido, fala sozinho e se masturba. Isso. Masturbar-se.
Acho que chega agora. Tenho outras coisas pra fazer. Com licença. Passe bem. E
vossa mercê também.