21.2.14

Senhoras tristes ouvem Chopin na sacada do Cosme Velho




Senhoras tristes ouvem Chopin na sacada do Cosme Velho.

Ônibus resfolegam sobre os trilhos de suas avós.

Por baixo da música operadores orientam o tráfego aéreo

do Santos Dumont e não liberam mais pistas para bondes.

O rádio da pensão é um farol que enconcha uma onda

após a outra uma onda após a outra numa página inteira.

À mesa Dona Carolina Augusta passa a limpo o soneto fúnebre

que lhe será dedicado como flores num recanto dos dormentes.

Senhoras tristes ouvem Chopin na sacada do Cosme Velho

estendem a mão e deixam o bonde ir embora.







15.2.14

Noturnos





O vento bate na caixa de curativos 

aberta ao som dos Noturnos.

Cercada por familiares e amigos,

ela oscila no tempo mais um pouco 

e tomba por causas naturais.

A letra manuscrita no atestado de óbito

bloqueia a passagem do ar.

A ferida, toda coberta, ainda respira.








11.2.14

Um verão em Iasnaia Poliana





Ontem terça

Amanhã terça

Depois de amanhã terça

A natureza -- inútil -- naturalesce

Para o sol envelhecer mais depressa 

Morto ontem nessas terças

E leiloado como um Fabergé militar de aço

Leio agora no Izviéstia