7.9.15

o edifício de kebbi




Ela se atira todo dia do edifício de Kebbi.
Faz menos sujeira, diz.
E os traços são mais vivos.

[Não acredito numa palavra de um publicitário.]


Eu amo você de longe.

Sem feri-la.
Sem quebrá-la.
Sem ouvi-la cantar suas canções preferidas.
Gota a gota verto minhas palavras
numa inocente folha de papel branco.
Versos de um poeta turco
na varanda do andar de baixo.

Ela se atira todo dia

da janela amarela do edifício de Kebbi.
E não diz a ninguém onde fica esse lugar.
Também não sabe se alguém já se atirou
daquela janela amarela em um outro edifício.

A chaminé do vizinho voou com o vento.

Aproveito o desenho.

Edifício A ou B.

Pessoa A ou B.
Eu quero me espatifar em cima de você.
O meu sangue é doce tipo O.
Seca rápido.
O médico tem de ter muito cuidado
ao me arrancar uma tripa,
quando vira os olhos
já coagulei

Red Red Red Red Red Red

fôlego fôlego puxe puxe
amarre as almofadas na minha cara
quero-a intacta, para levar com você
sua mesa de cabeceira, abra espaço
apoie no queixo
meus olhos pra baixo
não verão mais você
sua coleção de canetas
em minhas órbitas
não peça para ser publicada
não se humilhe
não peça para-quedas

de linhas escritas

o afresco tumular
resiste mais ao tempo

há uma coisa melhor 

muito
do que sangrar dentro de você
é ouvir o Coro do Patriarca Russo
de frente para a janela amarela
os solfejos de Rita Streich em Saint Säens
me sinto no paraíso já
um paraíso picotado
na praia de Buarcos

qual o sujeito?

qual o objeto?

o mundo será César até morrer