1.4.18

O Vale Feliz



é uma felicidade acordar todo dia 
sentir a pressão da bexiga e ter de esvaziá-la rápido
é uma felicidade acordar todo dia com vida
satisfazer a fome 
lavar a sujeira do corpo 
pôr uma roupa e sair para trabalhar
receber comandos e exercer sua função com desvelo e boca calada
saber o que fazer com o que está escrito e dito
por uma boa alma que pensou tudo antes de você
não estando escrito, quebrar a cabeça e solucionar
por métodos e raciocínios que você leu naquele manual
das boas almas que trabalharam gerações antes de você
depois almoçar digerir tomar café
as cafeterias foram abertas para você tomar café
todo mundo toma e você vai tomar
é uma felicidade tomar o que todo mundo toma
sentir o cansaço que todo mundo sente
casar com o que todo mundo casa
trepar do jeito que todo mundo trepa
sorrir do que todo mundo sorri
viajar para onde todo mundo viaja
e ansiar loucamente por isso
nadar porque o mar está lá para ser nadado
cruzado   vencido   explorado
acreditar porque crenças foram criadas para se acreditar
escolher porque escolhas têm de ser escolhidas
entre dúvidas para serem duvidadas
a lembrança que exige ser lembrada
é uma felicidade escrever o que acontece
e achar que foi imaginação do que acontece
é uma felicidade escrever estas palavras
este idioma pronunciar sílaba por sílaba
ler palavras que todo mundo escreve
dizer palavras que todo mundo diz
on air
stand by
go
stop
as escolas uma atrás da outra
as famílias uma atrás da outra
seus ídolos mestres mentores
que ensinaram a cantar parabéns em todo aniversário
e você aprendeu e canta em todo aniversário
parabéns pra você
nesta data querida
muitas felicidades
muitos anos de vida
é pique, é pique
é pique, é pique, é pique, é pique
é hora, é hora
é hora, é hora, é hora
ra-ti-bum
êêêêêêêêê
de novo!
parabéns pra você
nesta data querida
muitas felicidades
muitos anos de vida
é pique, é pique
é pique, é pique, é pique, é pique
é hora, é hora
é hora, é hora, é hora
ra-ti-bum
êêêêêêêêê
e o meu pedaço?
é uma felicidade comer deste bolo
olhando o horizonte desmaiar
da janela mais alta do prédio