20.12.24

STOP

10.12.24

25.11.24

O balcão



À sobra cabe só esperar 

na escuridão do fundo da lata. 

Não lamento.

De manhã cedinho o caminhão me recolherá 
e sairei um momento ao sol.
Sair das tripas de alguém, o futuro é bem pior.


15.11.24

Petite CosmAgonie Portative



"Foi melhor assim. Descansou."

Não. Foi aí que os problemas começaram.

A carne regateando com larvas.

O pó arrostando ventos.




14.10.24

6.10.24

 

Toda manhã tomo um comprimido

de algum lugar

que deveria acontecer




21.9.24

10.9.24























Enquanto a janela de cima não abrir, sei que não é o momento para ver-nos.

A conversa será espera em silêncio 

o livro aberto no piano soando

por séculos dos séculos 

eu ainda estar aqui.




22.8.24

Ars combinatoria

He llegado a la conclusión, aunque tardía, de que leer cualquier texto en langues étrangères me resulta más interesante. No sé por qué. Estoy agotada de mi Muttersprache. Même si je suis maladroit, me agrada intentar escribir dumb Dinge using alien vocabulari. No quiero ser yo misma. Sin ambiciones egolibroicas, escribo para pocos: el apasionado, el tímido, el colérico, el burlesco, el lúcido casi loco, el tonto, el suicida. En resumen, para mí.

17.8.24

Beira



llorar en las piedras hasta convertirte

en beirarrúa



2.8.24

Joseph Brodsky


Não que eu esteja enlouquecendo, mas o verão me deixou esgotado.

Ao buscar uma camisa na cômoda, o dia já está acabado.

Que o inverno chegue mais cedo e sepulte o terreno inteiro –

a cidade, as pessoas, e a vegetação acima de tudo.

Eu dormirei completamente vestido ou lerei uma página aberta qualquer

de um livro que não conheço, enquanto as sobras do ano terminam,

como um cão que foge do dono cego atravessando o asfalto no lugar certo.

Liberdade – é quando esquecemos o patronímico do tirano,

e nossa saliva é mais doce do que halva de Shiraz,

e, assim, mesmo que o cérebro, como um chifre de carneiro,

seja torcido ao máximo, nada pingará do azul do olho.


Joseph Brodsky, "Not that I'm going mad...", 1976. (Tradução Maira Parula)

22.7.24

18.7.24

3.7.24

Pacífico



Kyōgen de gaivotas

areias do Pacífico

descanso os olhos

e deixo a onda levar seu corpo



25.6.24

"Redigir um currículo"

 

Para Szymborska a propósito de seu poema "Pisanie życiorysu"


Redigir um currículo.

O ranger das fragmentadoras de papel.





A Mão de Paul Celan

24.6.24

Lett's pleien Chauceresque n'all



O lett me sitte hēr fore ever with my quyet thynges,

this clere fyr in flambes, rope and knyf thou shalt not sēn,

thynges alast in theim-self,

mi-self being ech of theim.



19.6.24

Às

16.4.24

26.3.24

A borda



Eu nadava bem, mas sabia que estava demente. 

Só não sabia se os outros tinham esta percepção de mim. 

A família. Meus rivais nas raias. 

As mãos que me cumprimentavam. 

Eu sabia disfarçar, lendo e nadando, lendo e nadando. Muito. 

E o principal: a expressão serena. Tanto. 

Quando seguia para treinos ou competições, 

já tinha me esquecido de por que havia saído de casa. 

Um motorista discreto me socorria nestas horas. 

O meu treinador na porta do clube. 

E principalmente a água. 

Bastava mergulhar e me lembrava de tudo. 

Aposto que você nunca teve a sensação de lembrar-se de tudo 

que aconteceu na sua vida em 100 metros de nado borboleta. 

Mais que uma sensação. 

A realidade. 

A biografia completa. 

E sempre a mesma, perfeitamente narrada. 

Todos os momentos encaixados por uma ondulação cronológica precisa 

a cada fase propulsiva de braçada e pernada. 

Ao subir no pódio para receber a medalha, 

não lembrava de mais nada. 

Acabado o ciclo de inspiração e não inspiração dentro da água, 

eu me via de novo sem sincronismo, 

sem lembranças, sem ar entre elas. 

Voltava para casa na velocidade errada. 

A medalha largada no banco do carro. 


 

13.2.24

23.1.24

16.1.24

A poesia de Dora Vasconcellos

 


Guardei teu murmúrio em mim

         As palavras mortas nas cartas
         Guardei das montanhas o poder

         A transparência do tempo
         Plantei a violeta no silêncio
         Dos meus olhos

         Guardei a eternidade da súplica
         A tristeza do refrão
         Guardei a tarde na areia

         Sobrevivi à palavra dolorida
         À narrativa sem enredo
         À fábula sem desenhos

         Perdi tuas ausências
         Meu hábito de olhar de longe
         A própria vontade de ter

         Perdi as curvas do crepúsculo
         O outro lado da ponte
         Os minutos rio abaixo

         Perdi a resistência
         Do guerreiro
         Perdi a hora do vento

         Ao te perder
         Voltei a mim lentamente
         Todas as lembranças
         São companheiras do tempo.

*

Dora Vasconcellos, "I have treasured your murmur". Poeta e diplomata, Dora foi letrista de Heitor Villa-Lobos. Três livros publicados. (Trad. Maira Parula)



15.1.24

Hope Piece

 

Imagine there's no heaven.

Imagine there's no countries.

Imagine no possessions.

Imagine all the people.

Dig a hole in your garden to put them in.


*

(Fusão Lennon's Imagine & Ono's Cloud Piece, MP)



11.1.24

Annie Ernaux


Senti uma violenta vontade de cagar. Corri até o banheiro, 
do outro lado do corredor, e me agachei na privada, de frente para a porta. Eu podia ver o piso de ladrilhos entre minhas coxas. Empurrei com todas as minhas forças. Aquilo disparou como uma granada, num jato de água que espargiu até a porta. Vi um pequeno banhista pender de meu sexo na ponta de um cordão vermelho. Nunca imaginei ter aquilo dentro de mim. Eu teria que andar com ele até o meu quarto. Peguei-o com a mão — era estranhamente pesado — e avancei pelo corredor apertando-o entre as coxas. Eu era uma besta-fera.


Annie Ernaux em L’événement, 2000. (Trad. Maira Parula)



2.1.24

They Like Delicate Poetry



 

They like Delicate Poetry.

Only Delicate Poetry. 

Almost a delicacy. 

An urinary hesitancy.

And they expect that from a poetess. 

Always the Poetess.

Who are "They"?

Who erected such Byzántioi?

Who cooks the remains for the losers?

Shush

I have a novelty for itch of you:

our Poetess is right here 

waiting for yous.

I am two

inside her bawdy.

And She is not jubilant.

Now,

all you got to do is come down 

twenty-five steps then turn left. 

Maybe I'm on the right side. Wrong. Mute. 

Maybe this basement is silent too. 

Certainly much more gloomy than deep dark. 

Facilis descensus Averno.

Be care 

if I care. 

Otherwise how could Poetess grab them. 

Who are "Them" anyway 

men? 

women? 

somefang?

odder delicate poets?

the Gilga meshes? 

dronedaries? 

Donald Ducks?

AI psychos?

otakus? 

C'mon 

this shit is getting me weeeeary 

my Kershaw jaws quiver 

bleeding all over the cold floor 

the Great Rome of triumphal aches. 

You may slip in Poetess' blob blob blood 

and I wont forget that Ever. 

Maybe I'm right beyond my drawl wrongness after all.

See? 

I havent finished off the poem yet. 

Now you have to descend filthy-two steps. 

The longer you take, the more I write. 

Oh, not me, no. 

The up-and-coming poetess inside my clenched hands. 

Would you save her? 

Or me, 

her Pthree-sixty-five,

her petrified cotton-head,

the Great Bert All Brushed.

Course not. 

I know From. 

Beginning told me:

There is a time to predate spoken language.

There is a time to cannibalize written language. 

O lord, now I can sniff out 

the First You coming right twart me.

I can hear. 

Here now at last.

Young, large and fresh. Mesopotamian.

Anticathartic.

The blade stops quivering, my ladies daddies.

Every line a victory.

Every cut a Thebes.

Applause, paws!

Poem is ready.