28.8.24

22.8.24

21.8.24

A poesia de Dulce María Loynaz













Hei de acomodar-me em ti como o rio ao leito,

como o mar à praia, como a espada à bainha.

Hei de correr em ti, cantar em ti, guardar-me em ti

para sempre.

Fora de ti o mundo há de sobrar-me, como ao rio sobra o ar,

ao mar a terra, à espada a mesa do banquete.

Dentro de ti não há de faltar-me brandura de limo para minha corrente,

perfil de vento para minhas ondas, cingidouro e repouso para meu aço.

Dentro de ti tudo está; fora de ti não há nada.

Tudo que és está em seu posto; tudo que não sejas me há de ser vão.

Caibo em ti, feita à tua medida; mas se for em mim

que algo falta, cresço... se for em mim que sobra, corto. 


(Dulce María Loynaz, em Poemas sin nombre, 1953. Trad. Maira Parula)


             

17.8.24

Beira



llorar en las piedras hasta convertirte

en beirarrúa



2.8.24

Joseph Brodsky


Não que eu esteja enlouquecendo, mas o verão me deixou esgotado.

Ao buscar uma camisa na cômoda, o dia já está acabado.

Que o inverno chegue mais cedo e sepulte o terreno inteiro –

a cidade, as pessoas, e a vegetação acima de tudo.

Eu dormirei completamente vestido ou lerei uma página aberta qualquer

de um livro que não conheço, enquanto as sobras do ano terminam,

como um cão que foge do dono cego atravessando o asfalto no lugar certo.

Liberdade – é quando esquecemos o patronímico do tirano,

e nossa saliva é mais doce do que halva de Shiraz,

e, assim, mesmo que o cérebro, como um chifre de carneiro,

seja torcido ao máximo, nada pingará do azul do olho.


Joseph Brodsky, "Not that I'm going mad...", 1976. (Tradução Maira Parula)