21.8.24

A poesia de Dulce María Loynaz













Hei de acomodar-me em ti como o rio ao leito,

como o mar à praia, como a espada à bainha.

Hei de correr em ti, cantar em ti, guardar-me em ti

para sempre.

Fora de ti o mundo há de sobrar-me, como ao rio sobra o ar,

ao mar a terra, à espada a mesa do banquete.

Dentro de ti não há de faltar-me brandura de limo para minha corrente,

perfil de vento para minhas ondas, cingidouro e repouso para meu aço.

Dentro de ti tudo está; fora de ti não há nada.

Tudo que és está em seu posto; tudo que não sejas me há de ser vão.

Caibo em ti, feita à tua medida; mas se for em mim

que algo falta, cresço... se for em mim que sobra, corto. 


(Dulce María Loynaz, em Poemas sin nombre, 1953. Trad. Maira Parula)