Hei de acomodar-me em ti como o rio ao leito,
como o mar à praia, como a espada à bainha.
Hei de correr em ti, cantar em ti, guardar-me em tipara sempre.
Fora de ti o mundo há de sobrar-me, como ao rio sobra o ar,
ao mar a terra, à espada a mesa do banquete.
Dentro de ti não há de faltar-me brandura de limo para minha corrente,
perfil de vento para minhas ondas, cingidouro e repouso para meu aço.
Dentro de ti tudo está; fora de ti não há nada.
Tudo que és está em seu posto; tudo que não sejas me há de ser vão.
Caibo em ti, feita à tua medida; mas se for em mim
que algo falta, cresço... se for em mim que sobra, corto.
(Dulce María Loynaz, em Poemas sin nombre, 1953. Trad. Maira Parula)