8.11.06

Vago navyo de mnha loucura/ Poeta de bronze/ A quem me detesta cordialmente







Ay Deus, vago navyo de mnha loucura,

sola estoy en mi mesa
metad poeta metad galardón
groriosa e tan acabada
quén comerrá 'gora mi coraçom?

Mil veces eu a pastar prefería
e a pastar mui ben
quedar sospirando aa beira do río
como lo mar sobre Lixboa,
o las virgens d'Aragom.

E pois de esquecer-me de mi seendo,
sse fizer tempo, um'onda alta e fremosa
possa levar-me da uida dicendo:
non trobemos, bailemos, gostosa.

*


Sentada na areia. Eu tive medo. Meu pai estava lá em cima. Túnel Dois Irmãos. Não, não estou bem na foto. Não acredite em nada do que escrevo quando digo que meu pai estava lá em cima e nossas janelas não se preocupavam com detalhes. Os barcos entravam aos pedaços pela baía do Leme. Meus olhos acompanhando espumas, minha mãe batendo bifes. Há um Copacabana Palace em que não entro. Estou sozinha. Seguro um coco. Escuto mal. Meu pai não vê mais ninguém. Para ele está tudo assim, diferente de um soco. Está tudo atlântico. E nós na foto. 


*


o poeta de bronze
amigos o abandonaram lá com as moscas da areia. 
você respira no meu ouvido, esperando que meu amor saia por ali. 
olhos de anzol, descarrega o mundo no meio da sala e me abraça às cegas. 
resmunga e me pede que eu não escreva isso. 
que não escreva nunca mais porque me arranha o trato intestinal. 
despede-se num balão de quadrinhos antes de partir pra tremembé. 
dispara nos meus pensamentos por uma estrada que já saiu de moda. 
bombons velozes, trocamos de pose. 
nossas mãos juntinhas suando no copo de gim.


*


das pessoas que me detestam cordialmente 

só aceito pagamentos à vista 
embora elas não saibam 
há indisponibilidade total de estoque 
conceitos são pensamentos mortos 
com que vou pastichando uns 
poeminhas de ambulatório 
você faz poesia prèt-à-porter 
e diz que é generativo 
se vende por um pedaço de broa 
e me repassa as despesas postais 
sei que nossa mizade não tem preço 
mas, pense bem, não ia dar mesmo certo.