14.4.11

na lua não tem lâmpada






minha mãe mora lá e vai pra rua ler os pensamentos que penso pra ela. dentro da sua casa  é escuro quando ela também pensa pra mim. o que está fazendo, menina? estou escrevendo o silêncio mas eu queria mesmo é estar comendo, comendo até explodir a fome que esta comida não mata. bife sangrando de arroz, dois tomates cortados de azeite, batata frita?, não, mas não tem outra coisa, come isso aí. está bem, mãe. minha mãe tem uma cama macia com lençol limpinho que toma banho todo dia o lençol, lá na lua lençol não demora pra secar que a água é amiga da lua e dos luantes, seca e evapora rapidinho num cisco do olho, ninguém vê ela subindo subindo em água virando em nuvem que desliza de noitinha e chega na terra pela manhã como óculos do sol protetor dos terrantes. minha mãe toma café com leite quentinho e um pãozinho fresco de manteiga igual fazia na terra como eu faço, só que eu engordo com pãozinho, ela não. daí eu como torrada que faz crunch e entra na gengiva, ela dói. eu não grito porque lá na lua grito é silêncio, minha mãe não vai ouvir pra tirar a torrada da minha gengiva com o pensamento de parar de doer. quando eu era pequena a gengiva não doía, era quieta. isso é novidade pra minha mãe, conto a ela. vejo um dedinho de preocupação no rosto que ela mostra só de aparência. ela não lembra mais o que é gengiva, eu explico. dor ela sabe. eu mudo de ideia pra ela não sentir dor de gengiva que nem tem mais boca de jacaré. hoje eu também vou dormir num lençol limpinho.