20.4.11

A indiferença era o seu beijo





não sou poeta, não sou escritora.

sou hebefrênica.
me definindo assim
aborreço bem menos a toda a gente



Entrou na capelinha gótica e três arcanjos

disformes lhe sorriram caninos de esguelha.

Uma velha, uma menininha

e um papagaio em estado de felicidade.

Estavam ali como quem sai na rua

para se divertir com quem passa,

mas temiam o ator principal.

Cruzou dois castiçais com arame,

acendendo as velas vermelhas,

e uma boneca de fio dos dois

mundos de sua juventude pulou de seu cérebro

como moscas espanholas na direção do sol.  

A indiferença era o seu beijo.

O jaleco do cirurgião.

Sabia que sua insensibilidade corria perigo.

Alguém precisava tentar o impossível até o último centavo.