Tivemos
uma conversa one-way esta manhã. Os dados que ela me passou sugerem que ainda temos
características em comum, sem muitos desvios padrão da média. A certa altura
tive um bloqueio em diminutas concentrações e meu coração dispara, ativando
fatores nucleares. Ela nem reparou, preocupada que estava apenas com sua expressão gênica. Eu não quis incentivar
uma permeabilidade e agreguei um tom de low-density. Aquela interação não
íntegra me provocou estímulos mecânicos e comecei com minhas habituais mordeduras teciduais, deixando que
ela continuasse me narrando suas reciclagens metabólicas. Parece que emagreceu
e que vai viajar. G. sempre teve uma baixa autocomplacência, e se emagrecer
mais vai parecer que tem dez anos. A continuar assim, só poderei reconhecê-la
por fotomicrografias. No ouvido esquerdo, eu escutava canções flamencas e perdi
parte do assunto quando a soprano intercalou duas duplas ligações com uma
ligação simples, aumentando a tensão. Las churumbelas que en la cuna mamaron
por bulerías pasan papelas de las que te mataron cuando vivías, cuando vivías. A
cadência andaluza me faz esquecer do ouvido direito, por onde ainda entravam as
prostaglandinas ciclopentenônicas de G. Lembrei-me dos bons tempos em que
passeávamos de mãos dadas, proteína com proteína, pelos corredores escuros da
bioquímica. Quando nossas conversas eram antiproliferativas e só nos importavam
a produção e secreção de outras moléculas, a desorganização de filamentos, a
ultracentrifugação sequencial de nossas amostras até o momento glorioso da aquiescência sobrenadante
pós-eletroforese. Mas isso tudo você não entendeu. Permanece na geladeira a 4o
graus e ao abrigo da luz. Ela se despede e me deixa com a soprano.
Sozinha outra vez neste ponto da curva.