1.6.13

In vitro



Tivemos uma conversa one-way esta manhã. Os dados que ela me passou sugerem que ainda temos características em comum, sem muitos desvios padrão da média. A certa altura tive um bloqueio em diminutas concentrações e meu coração dispara, ativando fatores nucleares. Ela nem reparou, preocupada que estava apenas  com sua expressão gênica. Eu não quis incentivar uma permeabilidade e agreguei um tom de low-density. Aquela interação não íntegra me provocou estímulos mecânicos e comecei com minhas  habituais mordeduras teciduais, deixando que ela continuasse me narrando suas reciclagens metabólicas. Parece que emagreceu e que vai viajar. G. sempre teve uma baixa autocomplacência, e se emagrecer mais vai parecer que tem dez anos. A continuar assim, só poderei reconhecê-la por fotomicrografias. No ouvido esquerdo, eu escutava canções flamencas e perdi parte do assunto quando a soprano intercalou duas duplas ligações com uma ligação simples, aumentando a tensão. Las churumbelas que en la cuna mamaron por bulerías pasan papelas de las que te mataron cuando vivías, cuando vivías. A cadência andaluza me faz esquecer do ouvido direito, por onde ainda entravam as prostaglandinas ciclopentenônicas de G. Lembrei-me dos bons tempos em que passeávamos de mãos dadas, proteína com proteína, pelos corredores escuros da bioquímica. Quando nossas conversas eram antiproliferativas e só nos importavam a produção e secreção de outras moléculas, a desorganização de filamentos, a ultracentrifugação sequencial de nossas amostras até o momento  glorioso da aquiescência sobrenadante pós-eletroforese. Mas isso tudo você não entendeu. Permanece na geladeira a 4o graus e ao abrigo da luz. Ela se despede e me deixa com a soprano. Sozinha outra vez neste ponto da curva.