16.6.13

Sinônimo é a palavra



que se escreve no lugar da que não se sabe escrever. Não é o caso aqui, mas esse foi o começo. Chamemos de mademoiselle, senhorita, senhorinha e iaiá. Éramos quatro moças bem moças muito mais minhas amigas do que eu delas. Cheias de melindres à simples queda de um talher, enfiavam a carapuça com qualquer papagaio verde que eu lhes contasse, acenando com o meu cansaço que logo viria delas. Contentes como se tivessem joia em lugar de vida, seus cabelos eram limpos, porque dormiam limpas e acordavam limpas. Quatro moças. E mais. Oito braços. Oito pernas. Oito mãos que não me descascavam um inhame. Se eu tivesse fome, não saberia o que fazer com elas. Que gente não se come. É carne ruim por dentro. E nem osso por osso colado me serviria de abrigo, que vaidade é uma parte só fingindo ser todo. Embora de tudo que me deem como e faço muito bom uso. Cozido, frito ou assado. Então esta noite não tive notícia delas. Um palmo de solidão sob a terra talvez seja assim, pensa o meu travesseiro por um buraco que eu escuto. Quando saírem, andam na praça, falando de si aos bancos de pedra e com quem passa pelas árvores abrindo portas para o meio-fio. Segundo as aparências. Depois vão dançar. Com os lábios desenhando a boca. O mundo é vasto para mademoiselle, senhorita, senhorinha e iaiá. Nem nada se pode saber. Amanhã elas alisam o pente e trazem a cascavel na língua até minha campainha. Que pena que você não foi. Desse jeito. Açucaradas como um rebuçado. Fazendo beicinho, me abraçando com aquelas mãos de angu de fubá mimoso. Como se pedissem que eu lhes desse algo em troca por isso. Eu costurava uma bainha, sem por que levantar a cabeça. Uma linha é uma linha, não o horizonte. De tal maneira que um bom pedaço do que disse foi. Vocês sabem que não gosto de bailes. Mademoiselle deu um gole no café que senhorita empurrou deixando que senhorinha falasse e iaiá as olhasse de baixo. Minha agulha subindo e descendo. Sob os panos, tinham pena de mim. Eu sabia. Dois metros de piedade de largura por três de comprimento, calculados sem fita métrica. De se tocar. Macia. Fria. De seda. Ainda não cansadas de dançar a noite inteira, dançaram de novo a véspera para mim. Quem estava com quem. Quem vestia o quê. A tesoura. Quem chegou com quem. Quem saiu com quem. Quem emagreceu. Quem engordou. Quem vai estudar na capital. Muito riam. Eu as acompanhava por partes. Para merecê-las. Por assim parecer melhor a todas. Três carretéis rolaram até a janela. A praça assando no fogão do meio-dia. Compraram uma queijadinha que passou num cesto de bicicleta. E comeram. Mergulhei até onde dava pé. Pronto. O último vestido está pronto. Folhas de alface não se corta com faca. Meu presente para vocês. Elas repartiram a surpresa com os dedos. Você fez um vestido para nós? Um vestido preto? E mais riram. Para a Semana Santa? Funeral de quem? Mas são de seda. Você sabe que nesta cidadezinha atrasada nenhuma jeune-fille usa preto. É mau agouro, sua burra. E ainda sem rendas e babadinhos. Que coisa. E mais não riram. Ora. Também não abriram caminho com lágrimas. O vestido ficou no mesmo lugar por onde saíram. Baixei os olhos para a máquina de costura: não me pergunte quem eu sou. O que for suará. No sétimo dia aquelas três almas estarão remando tua barca.