2.8.13

3 poemas de Malcolm Lowry



Um lamento - junho 1944

Nossa casa está morta

Queimou até o chão
Em uma manhã de junho
Com o vento da enseada.
O fogo que lambeu
Nosso leito conjugal
Deixou uma garrafa de gim.
Negra sob a lua
Nossa casa tombou.
Vamos erguê-la outra vez
Mas o lar acabou.
E o mundo arde.


O ex-poeta

As toras flutuam na água. Árvores

se curvam, é verde lá, a sombra.
Uma criança passeia no campo,
há uma serraria, através da janela.
Conheci um poeta que veio com esta:
o amor não acabou, só as palavras de amor,
disse ele. Acabaram-se as palavras
Que teriam descrito aquele navio.
Cores vermelho-chumbo nunca sobressaem
no pôr do sol lívido do Cabo.
Eu disse que isso era bom também.
Ele sorriu, respondendo: um dia
vou deixar este lugar como as palavras me deixaram.






Sem tempo de parar para pensar


A única esperança é o próximo gole.
Se te apetece podes dar um passeio.
Sem tempo de parar para pensar,
A única esperança é o próximo gole.
Inútil titubear no limite,
Pior que inútil é falar.
A única esperança é o próximo gole.
Se te apetece, podes dar um passeio.



------------------------------------------------------



(Em The Collected Poetry of Malcolm Lowry, UBC Press, 1992, Canadá. 
A primeira imagem é da cabana dos Lowry na praia de Dollarton, 
norte de Vancouver. A cabana incendiada. 
Trad. livre Maira Parula, 2013.)