Um lamento - junho 1944
Nossa casa está morta
Queimou até o chão
Em uma manhã de junho
Com o vento da enseada.
O fogo que lambeu
Nosso leito conjugal
Deixou uma garrafa de gim.
Negra sob a lua
Nossa casa tombou.
Vamos erguê-la outra vez
Mas o lar acabou.
E o mundo arde.
O ex-poeta
As toras flutuam na água. Árvores
se curvam, é verde lá, a sombra.
Uma criança passeia no campo,
há uma serraria, através da janela.
Conheci um poeta que veio com esta:
o amor não acabou, só as palavras de amor,
disse ele. Acabaram-se as palavras
Que teriam descrito aquele navio.
Cores vermelho-chumbo nunca sobressaem
no pôr do sol lívido do Cabo.
Eu disse que isso era bom também.
Ele sorriu, respondendo: um dia
vou deixar este lugar como as palavras me deixaram.
Sem tempo de parar para pensar
A única esperança é o próximo gole.
Se te apetece podes dar um passeio.Sem tempo de parar para pensar,
A única esperança é o próximo gole.
Inútil titubear no limite,
Pior que inútil é falar.
A única esperança é o próximo gole.
Se te apetece, podes dar um passeio.
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(Em The Collected Poetry of Malcolm Lowry, UBC Press, 1992, Canadá.
A primeira imagem é da cabana dos Lowry na praia de Dollarton,
norte de Vancouver. A cabana incendiada.
Trad. livre Maira Parula, 2013.)