3.12.13

Se eu te disser



Nasci no Tijuco, mas poderia ser Bruxelas, no Tijuco de Bruxelas
De algas velhas despedaçadas num canal estreito entre dois mares
Há dias em que a minha felicidade não passa de um papel úmido
Na noite de um hotel sujo em que escondo o verso mais completo
Com a tristeza de águas perdendo o equilíbrio
Da escuridão da escuridão do dia como aquele dia
Tenho saudade de tudo perdido nos gastos
Objetos que leio e me cercam e talvez me servissem
Não vejo surpresas em coisas que de fato veem a mim
Os dedos têm algo a confessar e me pergunto se uma noite será o bastante
Para encher três bacias enferrujadas de manhãs cobertas até o peito
Relembrando o impacto de um repouso em desordem pelo chão
Sonhando ao lado de insetos moídos pelo tempo
Eu nasci no Tijuco e havia papagaios
Havia o depois
Quase um tema musical
E a hora do almoço
O hoje que corre comigo
Como as coisas aconteceram
De passos apertados e uma dor nos quadris
Havia o Tijuco e o meu cansaço
Suspensos no convés 
Como um perfume que se repete
Porque sabe que nunca mais vai voltar
Os laços de fumaça rodando no travesseiro sob o rosto
Havia um bicho dentro de mim saltando a bombordo
Daquelas frases sem sentido e imóveis
Em areias embutidas
Ele ficará  dormindo
Por onde quer que eu não esteja
Irá pensando
Ao  longe
Se eu te disser