7.2.14

mais asseado que a poesia

                                                     

                                         a montagna o bosque  o rio
os cabelos sussurrantes
a lua refletida nos paens
no quadradinho feito
para encaixar na tua boca
coletas impostos 
és poeta
como nos tempos de Atenas
de estrênua inércia
cada crise parece a última
comes só o que faz mal
na figura de alguém
eu coço tuas costas e tu
não coças as minhas
escrevo com o pé
nas costas das vizinhas
no espelho da cama
todo pau se alevanta
não vês o mesmo
debaixo da manta
coleto impostos
sou poeta
e cada verso parece o último
perdido de onde nada mais
podes obter
amar por amar
amar por loucura
amar por doença
faça o teu preço
depena-me
vista a roupa de uma parente
de uma amiga
da esposa do tira-dentes
e deita-te comigo
como lágrimas nas fornalhas
peito contra peito
um sinal na virilha
de duas sílabas
sem cânone fixo
és poeta
no prelo do meu adultério
coleto impostos
com os rins erguidos
ao teu prazer
fora de casa não há nada
mais asseado que
a poesia