7.2.14

And that, much more than this




A gente vai ficando velho e parece que ser rebelde não se encaixa mais. Há um delay. Todo velho rebelde parece Serguei. Você devia ter morrido aos 21. Aos 27 estourando. Mas o ônibus passou e você foi ficando no ponto. Com suas caminhadas, sua hidroginástica, seus remédios de pressão, seus poemas de Manoel de Barros. O rock passou, o punk rock passou, o pós-punk passou e alguma coisa lhe atrai irresistivelmente para o som do Sepultura. Você que entrava em igrejas barrocas vazias para fugir do calor e da humanidade, ansiando por um pouco de silêncio mortuário em goth rock, agora se vê tentado a ajoelhar e rezar. Na mesa do bar, num encontro com velhos amigos da juventude, o garçom servirá o passado junto com o chope – ou a água mineral. Alguém sempre dirá, “Você se lembra do fulano?” Não, você não lembra. Lembrando ou não, a resposta será, “Pois é, morreu”. Daí você quer saber como. Na sua idade é infarto ou AVC, só pode. Não, fulano se matou. Se matou? Depois de velho? Você que era rebelde e dormiu no ponto não entende. Aturou tanta coisa pra chegar até aqui e se mata? Desiste no último minuto antes que desistam dele? Mas você é um idiota, não percebe que é disso que se trata. Do alto da sua imbecilidade parece não conceder que um velho tenha direito de se matar. Não com um memorável pico na veia, mas com reles corda e cadeira, um tiro na boca. Como você que era rebelde ficou velho, acha uma afronta que outro velho que era rebelde volte a ser rebelde enquanto você bebe água de coco para renovar as células. Para você a rebeldia mora num corpo novo. Rebeldia em corpo velho é esclerose. Aquela fase em que os velhos falam o que bem entendem doa a quem doer e nem lembram do assunto e da sua cara. Você volta pra casa abatido, toma um Viagra e fode duas horas. O amor continua lindo e cansativo. Você põe um vinil do Sid Vicious para give you a fix, mas sua heroína agora chama-se Rivotril. Nem pra Serguei você tem mais culhões.