3.7.14

Aviamento





Construiu com palavras 
uma missa de sétimo dia
sem dizer nada
só os lábios dos vivos se mexiam
concentrados nos pontos tortos do bordado
precisava aviar a voz que vinha
da sala do quarto da banheira
da estufa do celeiro
do pulmão dos bois

construía sem dizer nada
para calar o gato entre pombos
a Revolução Francesa
as fábulas chinesas
o bonde chamado despejo
a orquídea da inconfidência
e todos os outros títulos misturados
ao cheiro do seu corpo
no fogão ainda cheio de panelas

construiu seu sétimo dia numa casa cega
franziu e debruou
uma música indiferente 
expirando por entre os dentes