11.12.14

beijo molhado de sangue


Numa encarnação passada, me imagino trôpega,
apoiando-me nestas paredes da Villa Conti de 1860, 

tossindo sangue como uma tuberculosa. 

Pensando em alguém como na dor. 

Ou em ninguém, 

só no sangue a manchar o meu vestido. 

Olhando para o céu, 

à procura de um deus,

de uma cura,

de uma roupa limpa, 

e me engasgando com mais uma golfada.

Talvez haja um baile acontecendo na casa ali em frente.

Uma casa coberta de limo.

Com sorrisos cobertos de limo

aos quais eu acrescentaria um beijo na face.

Um beijo molhado de sangue.

Talvez a casa esteja abandonada

e eu não pertença mais a este século.

Nem a nenhum outro.

A fotografia não me alcançou.

Fotografias não me alcançam.

Em algum lugar do meu rosto

há um lenço manchado de sangue

que eu nunca encontro.