10.7.15

Notte amorosa




Escreva aí, pare de politicagem
fale das ruas
as ruas
chega dessa conversa de editoras
ouça um barclay quebrado na vitrola
nem sei se terei o que comer amanhã
e você vem falar de escritores e poetas
feiras literárias debates
não seja a vítima de sua história
me sirva um uísque
there are no right angles
ponha essa canção
deixa que ela entre pela boca
abra a máquina de escrever
tire a poeira
escreva aí
sem computador
os dedos têm de doer
ferir o papel
não chore
sofra ou ria um pouco
fume um cigarro aqui do meu lado
as árvores dançam, comece assim
paisagens de outono
entre grades
macieiras carregadinhas
notte amorosa,
fomos nós que trouxemos o vento
tem um banco
vá de bicicleta
pela urgência de criar
o coração aos saltos
fale de você
das ruas que passaram
as ruas
deixe os outros pra lá
são pedras da calçada
desvie
interiores
eu e você cercamos as águas em triângulos
meu isqueiro zippo queima um verso
you make me
Espelho,
ponha flores no cabelo
fique de frente pro sol
leggenda di mare
óleo sobre tela
vou desenhar a Vênus pra você
o ventre da cidade
a neve oliva
debaixo dos nossos pés
não fale de mim
tecle baixinho, Blanche
nosso rancho em Idaho
Jean Marais dormia com um cachorro
Blanche
nós também podemos
entre na lanchonete
o vento sempre atrás de você
você esqueceu o dinheiro em casa
sente
seque o suor
como quem canta para tropas inimigas
espere que alguém jogue um resto no lixo
abra um livro
o autor não vai pagar sua comida
mas como são bonitas suas palavras
veja aqui
a Virgem de máscara
um ferro de passar
escreva uma frase
pela urgência de comer
as maçãs estourando de prazer
em nossas mãos
naquele rancho deserto
do tamanho dos planetas
mare di nessuno
peixes engaiolados
as grades do banco vão abrir em minutos
lembre, nossas pegadas na neve
tire o chapéu
vermelha é a cor das maçãs
do nosso sangue
saia da lanchonete
e não olhe para trás