Ela
não oive de lá
que
eu oiço daqui.
Vão
almoçar no quintal
o
bando de amigos com seu casal.
Uma
rua de mesa de jardim.
Gente
assim não senta na grama.
Não
chora além da porta.
Os desconhecidos
alegres.
Um
garrafão de Violet tinto.
Dois
velhotes expansivos trocam charadas intelectuais.
Os
jovens, de reticências -- voltaram da Grécia de espírito aberto.
Mexo
a panela, oiço mais um pouco.
Alguém
vai escrever uma biografia d'outro, por comicidade.
A varanda
olha suas portas amarelas.
Falam
de um monge que atropelou uma cobra,
há
uma encenação de significados.
Falam de
telas e cavaletes.
Uma
conversa cacete.
Outro
casal pulinhos atrasado.
"A vida
simples no campo."
Um
telheiro de filósofos.
Oiço
um bebê chorando -- ou torta no forno.
Essa
poeta premiada sua amiga usa muitos "ques".
Vontade
de cair no meio das flores -- dois copos batem.
No
campo sinto que não estou sendo cooptado.
Nada
disso ela oive, só eu.
O
motor do helicóptero passa e evapora.
Toca
o telefone da sala. Corro. Não é o meu.
O mundo
tem telefone na sala.
Volto.
Um
intervalo sem vozes.
Seis
toques uma mulher atende.
No
quintal, seus amigos riem pelas costas.
Ela
fala alto no telefone.
Uma
voz tão melodiosa
quase
deixo me queimar.
Minha
poesia tem só treze anos, Paulo.
Eu
queria poder ver os gestos que ela faz.
Fico
com essas palavras batendo no sino da capela.
Na
sirene da polícia.
No
trem entrando na gare.
A
ligação termina.
Temos
de almoçar.
Ainda
esperam o fígado do cordeiro.
O
nevoeiro entra pelas janelas: ela não virá, mais uma vez.