14.4.17

1 poema de Anne Sexton




O coração morto



Depois que escrevi isso, um amigo rabiscou na página, “Sim".
E eu disse comigo mesma, “Preferiria que fosse por um 
arrebatamento diferente — como Molly Bloom e seu 'e sim
eu disse sim eu quero Sim'".



Não é uma tartaruga
escondida em seu pequeno casco verde.
Não é uma pedra
para você pegar e colocar sob sua asa negra.
Não é um obsoleto vagão de metrô.
Nem carvão que se possa acender.
É um coração morto.
E está dentro de mim.
É um estranho
que já foi satisfatório,
abrindo e se fechando como um molusco.
O que me custou ninguém pode imaginar,
psiquiatras, padres, amantes, filhos, maridos,
amigos e muito mais.
Saiu caro continuar.
Mas ele deu o troco.
Não negue!
Fico imaginando se abril poderia trazê-lo de volta à vida.
Uma tulipa? O primeiro botão?
Mas são apenas devaneios meus,
a compaixão de quem observa um cadáver.
Como ele morreu?
Eu o chamei de VIL.
E disse a ele, seus poemas cheiram a vômito.
Não fiquei para ouvir a última frase.
Ele morreu na palavra VIL.
E o fez com a minha língua.
A língua, dizem os chineses,
é uma faca afiada:
mata
sem derramar sangue.




("The Dead Heart", trad. Maira Parula)