27.10.18

23.10.18

Sintra


Como uma broa de Sintra. 
Solto um peidinho primaveril.

Diga a todos que batem à minha porta –
Ela está tuberculosa
Não pode ver ninguém
É contagiosa
Uma hora passa.
Bonita tarde.

O meu ódio é uma flor que se esforça.



21.10.18

Vício




No elevador, no teatro, abaixo-assinada.

Tarada.

Vício de rir por nada.

Lambe a mão de poetas suadas. 








16.10.18

Entre um poema e outro









Quando leio um livro. 

No espaço entre um poema e outro 

paro e penso -- 

Aqui a poeta foi comer um suculento bife à milanesa. 













9.10.18

A pound of flesh




Fim de festa. Juntou seus vinis, guardou e saiu com o peso nas costas.
O ponto de ônibus estava cheio dessas pessoas que chegam aos poucos.
Ninguém me ofereceu nem um maldito sanduíche, só cerveja quente.
Pagaram adiantado, em cheque preenchido com caneta tinteiro azul.
Pôs o cheque dobrado no bolso de trás da calça jeans.
Subiu e sentou no último banco. Os vinis no colo.
O relógio luminoso da estação de trem marcava 4:10.
Em casa a mãe ainda estava sonhando.
Você é o único culpado. Eu sei que é assim.
O melhor seria uma máquina de lavar.
O ônibus aumentou a velocidade.
Colocou os vinis ao lado da cama em silêncio.
A noite deitada.
Na cozinha panelas limpas e vazias sobre o fogão.
A geladeira aberta, viu garrafas d'água, cebolas ressecadas,
manteiga rançosa, batatas moles, massa de tomate mofada.
Abriu o saco de pão e pegou duas fatias.
Comeu encostado na parede iluminada pela rua.
Puxou o cheque do bolso e ele esfarelou em sua mão.
Molhado de suor.
Sentiu uma mordida no fígado.
Olhou pela janela ainda mastigando.
A mulher de cabeça baixa fumava no ponto.
Os ombros simétricos inclinados para a frente.
Rasgou o cigarro com o bico do sapato quando o bonde parou.
Amanhã ele ia pintar o portão.