11.5.20

História curta




Maxi era uma criança de uns sete anos. Comum, sem nada que a destacasse. Gostava de estudar terças, quintas e sábados. Às vezes era menina, às vezes menino. De manhã era menina, de tarde menino e à noite eu não conseguia enxergar. Maxi foi o nome que eu dei porque não ia perguntar certas coisas aos seus pais que eu nem conhecia direito. Maxi andava a sós pelas ruas. Apenas seus patins levavam seu corpo à praça do bairro. Uma pista de concreto. O gelo chegaria em nossa cidade anos depois, quando Maxi falou comigo pela primeira vez e me contou que só estudava terças, quintas e sábados. E o que você faz segundas, quartas e sextas? Converso com Bia e Pedro. Quem são Bia e Pedro? Eu, né. Você conversa com vocês? É, e você não perguntou dos domingos. O que você faz aos domingos? Eu penso no que conversei com Bia e Pedro e vejo quem tem razão. Maxi olhou minhas mãos vazias. Eu não tinha tela porque perdi três e não me deram outra nunca mais. Maxi teve pena de mim e jogou a sua fora na lixeira da praça para ficarmos iguais. Minha mãe diz que eu sou menina, mas na escola dizem, Você é menino. Maxi respondeu que lhe acontecia o mesmo só que no oposto. A gente não entendia por que o tempo ficava passando na nossa frente de pipoca na mão. Por que nossos pais, a escola --- todo o mundo e os Dias começaram a nos dizer o contrário do que diziam no início.