Você cuida, eles escapam.
Dentes, palavras.
Um dia escapam.
Pela brecha eu a vi,
sentada na casinha
que dava para o morro:
“Você cuida, eles escapam.
Dentes, palavras.”
Desde então, não me necessito mais.
Preciso tomar fórmulas.
No cinema, poetas escoavam versos
sorrindo para satisfazer nossa vaidade.
Desde então, quando dizem
“uma árvore alcançando o céu invisível”,
sei que querem dizer outra coisa.
A coisa que procuro, cuido e escapa.
Porque existem fórmulas
e me ajeito por trás delas
virando a cabeça para tocar-lhes a face.
Se é assim que gostam de vestir-se.