Experimento:
O abrupto esvaziamento tuborretal sempre
me provoca um desequilíbrio glutoneuronal. A sensação é de tumores humorais
aquosos calcificando-se na minha haste plêurica mestra. Tudo aconteceu depois
do amanhã, às 37 horas da escuridão. Eu estava espectando o domo vazio dos
planetas sobreviventes pela chama do isqueiro e vi o que sentia. O Nada mais
inteiriço e caudaloso de minha pequena existência celêumica. Duvidei até de que
havia nascido. Não comunicam essas coisas. Não do jeito como 7 e 5 podem ser
12, 2, 35, 1.4 e outros procedimentos matemacirúrgicos mais complexos, os
obscuros certamente jamais serão disseminados neste éon. Nunca pedi parágrafos,
mas a máquina me dá. Algo deve ter me afetado depois disso. Estou sem
alimentar-me desde então. Substituo por uma sequência de baterias
hemoplasmáticas dos meus ancestrais, reservadas para estas contingências desde
Eu Já Esperava Por Isso.
A claridade natural
aqui dura uns 30 minutos, pois temos uma anã branca expressa e muito comprimida
do que os primitivos chamavam de sol. Este sol engoliu a terra e tive sorte de
poder ter escapado com meus dispositivos de sobrevivência e algumas avarias
físicas. São uns dois mil habitando comigo uma rocha oceânica que o astro não
viu despencar, porque naquela altura tinha olhos. Meio cegos, mas olhos. Na
súbita hora da helioglutonaria, a rocha foi cuspida universo afora e cá
estamos. A anã branca que restou é mais cega ainda, mas oferece migalhas de
calor e luz quando gira célere pelas trevas celestes do universo-agora como somos.
Vivo numa caverna como os outros. Não podemos chamar este torrão de planeta. O
mar transformamos em água confiável e o oxigênio castiço dá para todos, por
enquanto. Respiramos por turnos. Plantamos o que lembramos. Alguns acham que
estamos num fragmento da Grécia, pelas características geológicas. A maioria
não crê nisso. A Grécia não havia mais quando o sol explodiu. Difícil conviver
com helenossaudosismos encruados. Grandes eventos sempre deixam um rastro de
loucura na mente acabadiça. Se não tomarmos cuidado, esses poucos Nós
Sobreviventes de nostalgia espectral começarão tudo de novo. Romas, Cristos,
inquisições, navegações para conquistar as cavernas uns dos outros. E o pior. A
América — hoje um NO2 à toa. A humanidade não costuma ver o que está
na sua cara. Cega como sóis. Tão destrutiva quanto. Mas infelizmente precisamos
uns dos outros nesta lasca de vida que nos coube. Há um certo amor no fundo
dessa areia.