16.4.12

Pessegueiros afogados













Virados para a meia-noite, os intestinos de Nereu são um vozerio de homens ao mar. Daquele lado ou do seu contrário. Por isso ele me pede a cada manhã que conduza mais célere os acontecimentos na cozinha. Nunca hei de perdoar-lhe meus pessegueiros afogados. O meu estado de alma – esta linha do horizonte que o sol não atinge mais. Orgulhoso dos méritos de sua digestão, que expressa por som e imagem, não é pequeno o desejo de vê-lo morrer pendurado em um deles enquanto descasco um continente de batatas tomando-me pela mão. Batatas não me levam muito longe. Não à Muralha da China. Abacate limão podre tangerina. Porque tudo isso se encontra por aí, plantas para arrancar o tempo, com toda a raiz. Vasos cheios de amor, sem ninguém a lhes tocar. Pão fresco. Derrotando por um fino curso d’água que paga caro pelo que arrasta, não vou muito longe. Não vou. Depois que as chuvas refrescam o ar, a lua segue o seu destino. Ou volta para casa. Ninguém deve sair à superfície após o terceiro toque.


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