20.3.14

1 poema de Maxine Kumin



Como é

Devo dizer como é estar em suas roupas?
Um mês após sua morte usei seu casaco azul.
O cachorro no centro da minha vida reconhece
você veio me visitar, ele fica em êxtase.
No bolso esquerdo, um buraco.
No direito, um tíquete de estacionamento
entregue em agosto passado na Bay State Road.
Em meu coração, uma dispersão de asclépias,
uma eclosão dos casulos da alma.
Minha pele pressiona seus antigos contornos.
É quente e seco por dentro.

Penso no último dia de sua vida,
velha amiga, como eu iria desfazê-lo,
juntá-lo outra vez em uma diferente colagem,
de volta do carro da morte parado na garagem,
subindo as escadas, suas mãos descruzadas,
remontando pedaços de pão e atum
em uma cerimônia do sanduíche,
recuando o filme caseiro até um espaço
nosso e tranquilo, uma lugar na cozinha
com vodca e gelo, nossas palavras em carne viva.

Amiga querida, você inspirou multidões
com o seu exemplo. Elas incham
como sacos de vinho, esgarçando suas costuras.
Eu ficarei anos reunindo nossas palavras,
pescando nossas cartas, fotos e manchas,
firmando minhas costelas neste tecido indelével
para vestir o mudo manto azul de sua morte.





("How It Is", poema de Maxine Kumin dedicado a Anne Sexton logo após sua morte em 4 de outubro de 1974, dia em que as duas amigas almoçaram juntas e Kumin ajudou Sexton a revisar seu manuscrito de The Awful Rowing Toward God. Ao voltar para casa, Sexton se matou. A poeta Maxine Kumin faleceu em 6 de fevereiro de 2014. Trad. Maira Parula.)