2.5.14

Assindética



Como um dia qualquer
Você acorda
Pneus chiam no asfalto molhado
Você entra na sala de aula
Quem sabe não lhe caibam
Todos aqueles alunos ali
Empilham sorrisos enfados
Alguns de banho tomado
O cheiro de pele ensaboada
chegando até o quadro-negro
Você não se vira no asfalto molhado
Fecha os olhos num doce repouso
Não ouve as perguntas
Responde
Parada
Quem sabe não lhe caibam
Você dá respostas certas
com o espírito de costas
O que ouve é o movimento dos olhos
A língua passando por lábios rachados
Assindética
Pela primeira vez tem medo
se encosta mais no quadro
escreve mais perto do que tem a dizer
O silêncio caindo com o pó do giz
apaga suas impressões digitais
Você põe a cadeira de frente para o farol
A manta sobre os ombros
E espera um barco passar dentro da luz
Como uma noite qualquer