25.1.16

poetas eternos têm cheiro de formol






– Poetas eternos têm cheiro de formol.
– Passa uma isca.
– Minha mãe teve um infarto fulminante no aeroporto de Frankfurt.
– A minha também.
– Eu tinha nove anos.
– A minha também.
– …
– Que horas são?
– É cedo.
– Acho que o futuro é de água. Como esta aqui.
– Sabia que me lembro da primeira palmada e do grito, “É uma menina!”?
– Nããão.
– Verdade. Lembro até das veias azuis do leite.
– Poemas saindo pelo mamilo.
– Uma felicidade.
– Só lembro de um homem de pijama perto do berço. Levava uma pasta.
– Seu pai?
– O mundo sempre me dá medo.
– O mundo é a bola da casa. Alguém faz o approach, o pêndulo livre,
e ele rola na sua direção. Não há canaleta que segure. Cada alma vale 1 ponto.
– Olha o cardume ali virando atrás da rocha.
– Essas pedras parecem de borracha.
– Peixes cativos sabem ler. Leem as bolhas subindo pelo aquário.
– E poetas eternos têm cheiro de formol.
– Sim.