12.8.16

A Roda da Morte





A sua mãe me comeu.
Com uma voz que não consegui entender,
ela fez com que eu a engolisse toda.
Não foi para isso que fui na sua casa.
Você não estava.
Eu sento e espero na sala 40 volts.
O sofá de pano cheira a cachorro velho.
Tomo um café gentilmente cedido por mãos brutas e cansadas.
Pelo batom vermelho que desbota.
Com a televisão ligada num programa de circo,
ela ri dos palhaços e me olha para eu rir também.
Que é preciso matar o silêncio.
Eu me pergunto onde estará seu pai.
Onde está você.
Ela me garantiu pelo telefone que você
estava no banho e me esperava ansiosamente.
Meu ônibus não demorou.
No banco vazio começou a chover.
Fechei a janela.  
Deixei um espaço para respirar.
Uma boca mais quente que a sua envolve meu peito.
Caio em cima do controle remoto e a roda de facas estanca.
Meu cabelo cheira a cachorro velho,
espalha-se naquele colo.
O colo vibrato de mãe.
O telefone toca e ninguém está em casa para ele.
O melhor spaghetti que comi na vida foi o de sua mãe,
pensei nisso quando uma pressão no estômago me fez
gozar como estou gozando neste exato momento em que  
escrevo estas palavras nos degraus marmóreos do térreo.

As plantas que ela me dá não eram cuidadas por você.