Metade da vida acabou em 2001. A outra metade em 2009.
Hoje é um zumbi que escreve para amedrontar-se de melancolias.
Os quadrinhos dos gibis da infância que lê antes de dormir
não trazem-na mais de volta. A fantasia não lhe diz.
Para se divertir ri de piadas sem graça.
Obseda-se com poemas.
Se deixa os suicidas na cabeceira, tem pesadelos.
Corta abacates com punhal de prata e os divide com os cães.
Joga na posição meio de rede.
Envelhece porque não se olha mais no espelho.
Não saberia como antes entrar num bar ou repasto e conversar dez doses
com amigos que falam como Bibi Andersson à Mesa da Paixão de Anna.
Cassavetes lhe traz angústias indeterminadas que não pode suportar.
Esses filmes que enfiam a faca e torcem.
Procura trabalhar e só vê desespero nos que procuram.
Houve fases assim antes, não adquiriu imunidade.
Não se apressa em cavar buracos.
Vai morar na garagem que sobrou do colapso de seus antepassados.