Pode ser tudo mentira. Pode ser que eu não seja
tradutora nenhuma, muito menos poeta, e viva toda cagada num buraco dentro do
equador celeste me estapeando com os abutres para comer.
Pode
ser que eu tenha os olhos molhados de tanto chorar baixinho como um retalho de
cérebro na caçamba de lixo hospitalar. Pode ser que eu vomite sobre tudo o que
leio. Que eu tenha mais nojo dos homens do que de um planeta de Dermatobia
hominis. Mais nojo das mulheres e seus batons Karl Lagerfeld azedos e babados
do que dos fungos comendo as estrelas dos céus de Van Gogh.
Pode
ser que eu roa as unhas até sangrar e prefira ouvir sirenes de ambulância à
quinta de Mahler. Máquinas de cortar grama em vez dos lullabies da Lollapaloozaland.
Pode
ser que eu seja o púbis gordo da mulher escondida no trigal.
A
velha parada na porta da cozinha.
O F-16 do minimundo.
A desmembração
de Hespanha.
A tensão de encher a parte onde se escreve.
O braço que alguém desce na
segunda faixa.