9.12.19

Não é nada




Centro de São Paulo. Você se encontra com uma ex. A pedido dela. O apto. 605 é um lugar
neutro. Nunca esteve lá. Você sai do elevador. Você chega em ponto. A hora que ela marcou.
Helena sorri. Sua respiração acelera. Você não sabe por que foi. Concordou, e só. Talvez
porque houvesse mais palavras. Mas Helena não estava sozinha com elas. Há dois casais
afastados, calados, perto da janela. Você não entende. Tem uma câmera apontada para os
quatro. Chove. Você e Helena conversam baixinho horas num sofá pequeno olhando a cena
por olhar. Os dois casais e a câmera não se entreolham mais, nem se dão conta da presença de
vocês no nicho escuro da sala. Meses, anos. Num fim de tarde você vê no cinema todo o seu
diálogo com Helena correndo na tela encardida. Um filme que agora esqueceu o nome.
Frases iguais, intercaladas, revezadas.
Suas.
Dela.
Indefiníveis.
Noite Vazia, você lembra.
Suas mãos enregelam na poltrona.

— Você não gostou de mim.
— Não é nada disso.
— Não é nada disso…
— Não é nada…