Centro de São Paulo. Você se encontra com uma ex. A pedido dela. O
apto. 605 é um lugar
neutro. Nunca esteve lá. Você sai do elevador. Você chega em
ponto. A hora que ela marcou.
Helena sorri. Sua respiração acelera. Você não sabe por que foi.
Concordou, e só. Talvez
porque houvesse mais palavras. Mas Helena não estava sozinha com
elas. Há dois casais
afastados, calados, perto da janela. Você não entende. Tem uma
câmera apontada para os
quatro. Chove. Você e Helena conversam baixinho horas num sofá
pequeno olhando a cena
por olhar. Os dois casais e a câmera não se entreolham mais, nem se dão
conta da presença de
vocês no nicho escuro da sala. Meses, anos. Num fim de tarde você
vê no cinema todo o seu
diálogo com Helena correndo na tela encardida. Um filme que agora
esqueceu o nome.
Frases iguais, intercaladas, revezadas.
Suas.
Dela.
Indefiníveis.
Noite Vazia, você lembra.
Suas mãos enregelam na poltrona.
— Você não gostou de mim.
— Não é nada disso.
— Não é nada disso…
— Não é nada…