12.12.19

O céu da Pérsia



Meio espetaculoso aqui.
Como o cinema.
Não sei em quantas biroscas entrei chamadas de “Casarão”.
Tark.
Trier.
Farc.
Skoal.
Na vida real é tão mais simples, repentino e opaco. Só um alvoroço rápido.
Depois os passarinhos se assentam e voltam a cantar.
Tem telão demais. Teto baixo. Não devem querer que a gente se levante nunca.
Olha pra rua. Os carros passando.
Os passos da Morte correndo no cascalho.
Dá-me o direito de morrer quando tenho sono.
Queria viver sem notícias. Anos depois acordar como de um coma.
Que música é essa?
Onde?
Naquele Monza ali parado.
Quem ainda tem um Monza, cacete?
Pôxa.
Pôxa o quê?
A música.
Como foi bacana te encontrar de novo.
Essa mesmo. Deve ter a idade do motor.
Você não sabe como eu acho bom.
Esse lugar seria pior se se chamasse Night and Day.
Whisky, dats the ticket!
Me conte aí uma história triste.
Vou casar mês que vem. Mas só podemos no dia propício indicado pelo astrólogo.
Você não mudou nada.
Tem certeza de que está vendo o todo?
Não. Queimei meus velhos cadernos do todo num tambor 200 litros.
Eu te falei que você não ficava nem uma semana.
Escrevi um conto sobre uma família extremamente tediosa em que nada acontece.
A ponto de nem o texto acontecer.
Isso.
O marido passa o tempo concluindo a letra U do seu Dicionário Enciclopédico da Psique.
Só a letra U. Não tem outra. Mulher e filho entram e saem. Entram e saem.
Gosto de Apart Art.
O confinamento com divisórias bem definidas num espaço mínimo sem margem de manobra.
Com o tempo as palavras explodem as paredes ou se calam para sempre.
E você quer falar do se calam para sempre.
Sim.
Skoal.
I have the feeling that all the legends are coming true. And I feel too weak.
De quem é?
Annemarie Schwarzenbach.
Vamos cantar “Pôxa” pra Annemarie quando encontrarmos com ela no céu da Pérsia.