23.7.20

Lapa





No início tudo era água
que o tempo foi secando.
Todo deserto era fundo de mar 
dizia Camilo Pessanha a quem quisesse ouvir. Não o poeta, mas um velho bêbado do circuito boêmio da Conde de Lages. A mesma rua que de uma janela no alto atirei décadas depois o livro de um poeta cujas iniciais do nome formavam a sigla de um vírus fatal que começaria a acossar a humanidade no remoto e nada saudoso ano de 2020. Camilo não existe mais, nem a Conde, nem livros ou poetas. Mas aqui no tubo de concreto onde moro ainda posso ouvir Villa-Lobos, antigo frequentador da Lapa, hoje Latin America Placement Agency.